A revelação da farsa do “seminário” de Gilmar mostra que sua fama cruzou o Atlântico. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 26 de março de 2016 às 13:17
Amigos também em Portugal
Amigos também em Portugal, ora pois

 

Gilmar Mendes está tendo dificuldade para explicar o que deveria ser simples de descrever se simples fosse.

O seminário em Lisboa organizado por seu IDP, Instituto Brasiliense de Direito Público — onde trabalha a advogada que apresentou liminar contra a posse de Lula, acatada por GM —, transformou-se num mico internacional.

Entres os palestrantes, estão os velhos amigos Aécio Neves e José Serra, além do ministro do STF Dias Toffoli . Michel Temer declinou para conspirar por aqui mesmo. Dois inocentes úteis, Jorge Viana, senador pelo PT do Acre, e Luís Inácio Adams, da AGU, estão no pacote.

O evento foi definido como “governo brasileiro no exílio”. Gilmar tem rebatido dizendo, cinicamente, que a crise “favorece o aparecimento de toda sorte de teoria conspiratória”.

O trem da alegria de GM é explícito no timing e no tema: “Constituição e Crise — A Constituição no contexto das crises política e econômica”. A ideia, afirma o articulador, é discutir “semipresidencialismo”.

“Não é reunião de partido, é uma reunião acadêmica que foi programada há muito tempo, com convites preparados há mais de dez meses. A OAB e a FGV apoiam, por exemplo”, falou, como se isso fosse argumento.

Portugal não embarcou. O presidente Marcelo Rebelo de Sousa avisou que será difícil comparecer, embora conste desde o começo como estando confirmado.

Acusações de leniência e cumplicidade estão sendo dirigidas à Universidade de Lisboa, que sedia o fórum. Jaime Gama, ministro de Negócios Estrangeiros, também pulou fora, bem como Pedro Passos Coelho, ex-primeiro ministro.

De acordo com o Globo, que ouviu políticos portugueses, há uma consternação com o “tom conspiratório”. “Me parece um seminário muito enviesado”, disse o historiador e ex-deputado do Parlamento Europeu Rui Tavares. “As mesas de debate quase têm como preocupação procurar uma justificativa teórica ou acadêmica para o impeachment”.

O escritor português Francisco Louçã, economista e ex-deputado, traduziu as intenções de Gilmar. “Só haveria uma razão, procurarem um endosso internacional para as suas diligências, fazerem-se fotografar ao lado das autoridades de Portugal. Se era esse o objectivo, fracassou”, escreveu no jornal Púbico.

“O seminário era de tão alta qualidade que os organizadores se esqueceram de consultar a ‘pertinência académica’ do ‘contributo’ dos oradores que convidaram. Ficando deserto de autoridades, o seminário limitar-se-á então, se ainda se vier a manter com tantos abandonos, a uma conversa entre juristas e políticos brasileiros sobre a graça do golpe que está a decorrer. Suponho que só a TAP agradecerá a cortesia”.

O mistério que fica é relativo à presença de Viana e Adams. A certeza é em relação ao caráter e às intenções de Gilmar Mendes e apaniguados, que tentaram arrastar os portugueses para sua farsa achando que estavam em seu quintal, o Brasil.