A vitória dos Warriors na NBA e o que o futebol pode aprender com o basquete

Atualizado em 17 de junho de 2015 às 10:48
Aos campeões, o troféu
Aos campeões, o troféu

O melhor do mundo perdeu. O Cleveland Cavaliers, time de LeBron, apanhou do Golden State Warriors. Aqui já vale notar: não é o Warriors, time do Stephen Curry. É outra coisa, um caso diferente do Cavaliers. O Warriors é um time coeso, completo. Um time que, se não tem um gênio, tem vários ótimos jogadores, e isso inclui os reservas.

O slogan do Warriors é muito bonito: “a força dos números”. Isso faz alusão tanto à força da torcida, que faz lotação esgotada há mais de 100 jogos, quanto à força do time, e prova dessa força é que Curry, o cara tido como o melhor jogador do time, não foi considerado o MVP (o melhor jogador, equivalente ao bola de ouro no futebol) afinal. Foi Iguodalla, que começou os playoffs na reserva.

Onde você encontra um reserva sendo MVP? Num time muito coeso, com talentos muito próximos, eis onde.

É interessante ver onde o futebol pode aprender com o basquete. Os brasileiros já tentaram importar algumas coisas, mas sempre as erradas. O mais importante não é a macaquice das cheerleaders, nem o show que se faz em volta do jogo.

O importante é o profissionalismo em algumas áreas.

Uma coisas das mais interessantes é como eles apontam o MVP.

O único MVP da história que não ganhou o campeonato foi Jerry West, o homem que cuja silhueta é o logo da NBA. Desde 1970, o MVP é necessariamente do time vencedor.

Iguodala, o MVP: campeão
Iguodala, o MVP: campeão

Necessariamente, repito.

Injusto? Talvez. Mas inteligente.

Primeiro, você valoriza o campeonato. Quer dizer, se o time foi campeão é porque está lá, senão o melhor jogador, o mais objetivo e efetivo – o que conseguiu, como quer que seja, o resultado. Se esse resultado veio de saber jogar em equipe, ou mesmo de saber escolher a equipe certa para jogar, não tem problema. Mas o fato é que há muitos méritos envolvidos em ser campeão, e isso não pode ser menosprezado.

O caso oposto é o da Messi-mania que assola a FIFA. O maior legado desta febre foi diminuir a importância da Copa do Mundo, elegendo Messi o melhor jogador de uma Copa que perdeu e o elegendo por duas vezes o melhor jogador do mundo em ano de Copa ganha pela Espanha e pela Alemanha. É como dizer “olha, não tem importância isso aqui não.”

A segunda questão é como eles mantém os times mais próximos e competitivos entre si do que qualquer campeonato de futebol do mundo.

Na NBA, há um teto de gasto com salários. Isso significa que do time mais rico ao mais pobre, haverá pouca diferença financeira. Claro que pode haver, e há muita, diferença de competência. Mas quando a discrepância financeira é tão grande como é no futebol, não há nem competência que salve. Aquele que está em cima não precisa ser competente e o que está embaixo poder ser o quanto for que vai fazer pouca diferença.

Messi, bola de ouro até na derrota
Messi, bola de ouro até na derrota

Também há um draft, que é a escolha de jogadores amadores que entrarão para a liga profissional. A cultura local é bastante diferente, onde os jogadores começam em universidades e não em categorias de base como no futebol, mas imagine o seguinte cenário: todos os melhores jogadores das categorias de base do futebol, ao estarem prontos para se profissionalizar, não saem simplesmente assinando contrato com quem aparecer. Eles vão para esse draft, isto é, se tornam disponíveis para os times. Só que tem um detalhe: os piores times da temporada escolhem primeiro.

Pense no Brasil. Neymar se profissionalizou em 2009. O Ipatinga foi o último colocado do campeonato em 2008. Imagine se o Ipatinga pudesse ter escolhido Neymar no draft, como não teria sido diferente a história do Ipatinga. Agora aplique isso ao longo da história. Imagine o equilíbrio que isso não traria aos campeonatos.

Por isso há muita inconstância na NBA, no bom sentido. No ano seguinte à saída de Michael Jordan, o Chicago Bulls ficou em último – e tinha sido campeão no ano anterior.

Ainda no quesito profissionalismo, é interessante ver como se divide as cotas de transmissão e de patrocínio.

A transmissão dos jogos não é exclusividade de nenhuma emissora. Divide-se generosamente. A TNT passa um jogo, a ESPN passa outro, a CBS outro, e assim por diante. Há um rodízio.

Todas essas empresas, ao contrário da nossa Globo, retribuem a generosidade, por exemplo, dando o nome dos estádios aos estádios. Cansamos de ver a Oracle Arena nestas finais, com suas logomarcas gigantescas expostas sem frescura. Isso ajuda os times a se manterem rentáveis.

A NBA vende o patrocínio da liga e repassar para os times por igual. Este ano, pela primeira vez, vendeu à Nike o direito de fabricar o material esportivo. Da mesma forma, será dividido entre todos os times.

O profissionalismo da NBA sempre foi muito maior que o da FIFA. É engraçado a gente ter que aprender a dividir na meca do capitalismo.