Alguém acredita que Eduardo Cunha acredita em Deus? Por Paulo Nogueira

Atualizado em 18 de outubro de 2015 às 5:14

 

Em nome de Jesus
Em nome de Jesus

Num romance de John Updike, um pastor se dá conta no meio de um sermão, em frente à plateia de crentes, que perdera a fé em Deus.

Que fazer não apenas naquele momento, mas pelo resto da vida?

Não sei por que pensei neste pastor de Updike. Ou talvez saiba.

É que eu tenho uma pergunta a respeito da fé.

Alguém acredita que Eduardo Cunha acredita em Deus?

Não acredito.

Tenho para mim que é mais um daqueles desprezíveis mercadores de fé que exploram o limitado dinheiro de pobres ingênuos.

Cunha levou essa exploração a outro nível: extraiu dela também votos.

Quem acredita em Deus não faz o que ele fez. Ponto, exclamação.

Não mente. Não trapaceia. Não rouba. Não ameaça. Não achaca.

E também não comete blasfêmias como dar o nome de Jesus a uma empresa feita para esconder coisas como um Porsche de quase meio mihão de reais.

Cunha é, sob todos os aspectos, o anti-Jesus.

Nada, rigorosamente nada, das lições de Cristo você vai encontrar nele.

Compare com o cristão mais notável dos dias de hoje, o Papa Francisco.

Ou mesmo um ateu como Mujica.

Mujica sim poderia ser associado a Cristo, pela simplicidade, frugalidade, tolerância, compaixão.

E pelo amor aos pobres.

A melhor comparação entre ambos é o Porsche de Cunha, aliás um entre vários carrões comprados com dinheiro sujo, e o Fusca de Mujica.

Um verdadeiro cristão, ainda que ateu
Um verdadeiro cristão, ainda que ateu

Um Brasil reinventado, porque é isso que se deseja, vai ter um olhar severo para mercadores da fé como Cunha, Malafaia, Edir Macedo, Feliciano, Everaldo e tantos outros.

Por que você não os encontra na Escandinávia?

Porque o sistema igualitário nórdico propicia à sociedade educação para perceber os charlatões antes que eles se instalem e batam carteiras.

A desigualdade social explica a proliferação de Cunhas e Malafaias. São os excluídos, os humilhados e os ofendidos, que lotam as igrejas em que pastores os instam a doar o dinheirinho que têm.

Quanto menos desigual uma sociedade menos espaço para este tipo de roubo legalizado.

Todos conhecemos histórias.

Utilizei motoristas evangélicos em algumas viagens de Caraguatatuba a São Paulo e ouvi coisas que jamais esquecerei, e não ditas em tom condenatório.

É impossível acreditar na fé de que quem intima, coage os fieis a doar até o dinheiro guardado para o aluguel.

Assim como é impossível acreditar que Eduardo Cunha acredite em qualquer coisa que não seja dinheiro.

Para mim o argumento definitivo é este: se acreditasse em Deus, Cunha saberia que iria para o inferno.