Ao expor o golpe na ONU, Dilma está protegendo a democracia. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 23 de abril de 2016 às 9:22
Dilma é recebida em Nova York
Dilma é recebida em Nova York

 

 

Dilma está dando um golpe no golpe ao investir em denunciar a ilegalidade do impeachment no exterior. Em Nova York, ela foi recebida com rosas por 40 manifestantes na quinta, véspera do discurso na ONU.

Na sexta, na cerimônia de assinatura do Acordo de Paris, novo pacto global sobre o clima, aproveitou para dar seu recado. “Estamos passando por um grave momento”, falou, ao final de sua participação.

“A despeito disso, quero dizer que o Brasil é um grande país, com uma sociedade que soube vencer o autoritarismo e construir uma pujante democracia. Nosso povo é um povo trabalhador, e com grande apreço pela liberdade. Saberá, não tenho dúvidas, impedir quaisquer retrocessos”.

Abordará o tema em encontros com jornalistas. Nova York é a primeira de outras praças no mundo.

É difícil medir o efeito prático de uma atitude como essa. Ninguém, evidentemente, vai intervir no Brasil — uma bênção e um avanço, levando-se em conta que a última vez que isso ocorreu foi em 1964.

Serve plenamente para constranger e expor internacionalmente a farsa jurídica. Ao contrário do que pregam os suspeitos de sempre, a ação de Dilma reforça que somos uma democracia e que alguém — ela — a está defendendo. A república de bananas é a do show de horrores da votação do impedimento.

Além do mais, se você está sendo assaltado e na sua casa todos continuam assistindo televisão, grite para o vizinho.

Ela tinha avisado, na entrevista para blogueiros, que iria às últimas consequências e ocuparia cada trincheira. O desespero com que Temer, Cunha e sua turma estão encarando a viagem é sintomático.

Temer foi personagem central de um perfil no New York Times. Ele é definido como “impopular e sob investigação”.

“Eu estou muito preocupado com a intenção da presidente de dizer que o Brasil é um tipo de pequena república onde golpes são dados”, afirmou o homem que conspirou, vazou uma carta de rompimento ridícula e, pouco depois, um pronunciamento de posse adiantado.

A Câmara — ou seja, você — pagou para dois deputados “resistirem” em Nova York. Luiz Lauro Filho e José Carlos Aleluia foram enviados por Eduardo Cunha para “rebater” Dilma. Note: nenhum deles tem direito a ocupar a tribuna na ONU.

Mais: apenas um deles, Lauro Filho, fala inglês — ou garante que fala. Vão circular pelo prédio distribuindo panfletos, como Plínio Marcos?

Segundo o Valor, os dois terão “entre US$ 300 e US$ 400” por dia para as despesas. Foram de executiva e só retornam no domingo, um dia depois de Dilma. Que mal há em mais uma tarde livre para compras, suckers?

E Dilma está sujando o Brasil? É isso?

Aleluia é uma figura carimbada. Está entre os parlamentares citados pelo economista José Carlos Alves como integrantes do esquema dos Anões do Orçamento nos anos 90, quando o DEM era o PFL.

Em 2006, seu nome foi associado à chamada Máfias das Ambulâncias. Ele teria autorizado um colega do PP (olha aí) a negociar propina. Documentos apreendidos pela PF atestam que Aleluia recebeu 400 mil reais.

Na imprensa brasileira, ninguém acha estranho um sujeito como Aleluia se fantasiar de Batman e sair no encalço da presidente. A mídia internacional, porém, não tem conseguido encarar com normalidade essas nossas jabuticabas.

Para quem tem um mínimo de noção de civilidade, não é difícil saber quem está queimando o filme do país.