Ao inocente útil: o golpe não é no Lula ou no PT, é em você. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 4 de março de 2016 às 11:31
Policiais no Instituto Lula
Policiais no Instituto Lula

 

O DNA antidemocrático do brasileiro não falhou neste 4 de março de 2016.

O idiota previsível soltava rojões com as imagens de homens de metralhadora cumprindo a ordem de condução coercitiva para levar Lula a depor em Congonhas.

Contra esse tipo não há muito a fazer. É o zumbi que, submetido à dieta indigente da mídia, foi às ruas e passou a tirar selfie ao lado de velhinhas fofas com cartazes perguntando por que não mataram todos em 64.

É o cretino de Facebook que ensinou a filha pequena e colecionadora de Barbie a mandar Dilma tomar no cu.

É o cunhado ladrão que passou a vibrar com vídeos de cidadãos sendo enxotados de restaurantes, hospitais e outros locais públicos.

É o fascista que não vê nada de estranho em 200 policiais mobilizados para dar um show combinado com a televisão.

É o fascista.

É o fascista que considera corriqueiro o editor da revista Época Diego Escosteguy tuitar, à 1h49 do dia da operação policial: “Quase duas da manhã. Poucas horas para um amanhecer que tem tudo para ser especial, cheio de paz e amor”.

Às 2h14: “Relaxem: vocês podem dormir com a consciência tranquila. Deixem a insônia para quem não tem opção.”

Às 2h20: “Não é com vocês. É com quem não pode dormir.”

Não apenas ele sabia do circo que ocorreria dali a pouco, mas não se preocupou, de maneira nenhuma, em esconder um prazer sádico numa espécie de vingança pessoal.

Tudo bem? Bola pra frente?

O idiota previsível, em sua cegueira, quer o golpe.

A questão, agora, é o sujeito que pensa que não é com ele ou que relativiza a arbitrariedade. “Lula fez por merecer, tem coisa aí, no final vai ser bom” etc etc etc.

O golpe, porém, é nele. O golpe é no voto de 54 milhões de pessoas que elegeram a candidata. O impeachment preventivo de Lula traz no pacote o impeachment de Dilma. O grupo vencedor não governa. Votar nesse grupo torna-se crime por associação.

A você, que está em cima do muro; a você, que pensa que isso é do jogo; a você, que acha que estamos avançando, bem ou mal, na luta contra a corrupção; a você, que tem a ilusão de que tucanos e congêneres também serão submetidos a esse escrutínio; a você, que assiste Maluf e Cunha desfilarem por aí e não se arrepia; a você, que está assistindo a um linchamento ao vivo sem mover uma sobrancelha.

Acorda, Alice. Isso não é republicanismo. É ser trouxa e conivente.

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