Aos companheiros na trincheira. Por Léo Mendes

Atualizado em 15 de abril de 2016 às 16:41

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Os cavalos maltratados em carroças tem o campo de visão limitado pelos antolhos. Em Brasília, foi construído um muro.

“ – Quem estará nas trincheiras ao teu lado?
– E isso importa?
– Mais do que a própria guerra ”

Esse diálogo, atribuído a Hemingway ou Clarice Lispector por milhares na internet, deveria ser o de milhões de brasileiros essa semana.

Só que muitos parecem ter vergonha dos seus companheiros de luta.

Como um cavalo com antolhos, nem olham pro lado quando o bonde passa e grita Bolsomito. Imagine FHC levando seus amigos da Sorbonne a um evento com discurso de Malafaia, Alexandre Frota, Janaína Paschoal… – enquanto do outro lado do muro cantam Chico e Caetano.

A elite tradicional burguesa que apoia o golpe ainda não aceita seus novos companheiros de trincheira no Country Club. Ela se considera civilizada, chique, cosmopolita, descolada, amante das belas artes e vê Bolsonaro como um palhaço inofensivo. Só teme ou odeia Lula.

Eduardo Cunha, ela aceita quase de boas, até ele ser preso. E Michel Temer é um deles.

Assim habitam pacificamente no mesmo lado do muro: bolsonetes, olavetes, kataguirianos, reis do camarote, fascistas, aliados de Cunha e Temer, o pato da FIESP e o cidadão de bem.

O cidadão de bem, nesse caso, é o cidadão médio, meio ignorante, meio de direita, que tem a visão limitada pela mídia e pela falta de leitura. Que não será beneficiado direta ou indiretamente pelo golpe, e acredita que o impeachment é contra a corrupção. Que ignora que o documento aprovado por Cunha nada tem a ver com isso, e que até poderia mudar de lado, fosse ele bem informado.

É isso o que parece mais irritar os que estamos do outro lado do muro. Não fosse a mídia tão suja e a alienação tão imensa, hoje as batalhas poderiam ser outras.

Essa disputa prolongada pelo poder, por um grupo que acredita dispor dos meios necessários para reverter a derrota nas urnas, custe o que custar, esvazia a real luta política, a que de fato pode melhorar a vida das pessoas.

No circo que foi montado, temos um espetáculo vazio de sentido e cheio de horrores.

Pode servir de consolo a certeza de que a história saberá reconhecer os palhaços