Aposente-se ou não, Cármen Lúcia sabe que o dono do STF é Gilmar Mendes. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 21 de março de 2017 às 15:36
carmen lucia e gilmar mendes
Eles

 

Cármen Lúcia afirmou que quer voltar a dar aulas no início de 2018 na PUC de Minas Gerais.

Sua intenção não é se aposentar do Supremo, como foi noticiado. Cármen pretende concertar suas funções como presidente do tribunal com o magistério.

Ela fez uma palestra em aula inaugural da Faculdade Mineira de Direito. Na chegada, foi chamada de golpista por um grupo de manifestantes.

Sua aposentadoria é, ao fim e ao cabo, irrelevante. Seja quem for o cidadão a se sentar naquela cadeira, quem manda no STF é Gilmar Mendes.

Gilmar é onipresente, onisciente e onipotente. Sua presença na vida nacional é esmagadora. É o Caetano Veloso da vida real (Cármen é Gilberto Gil, sempre num segundo plano, distribuindo declarações anódinas, embora toque melhor o violão).

Gilmar se vê no direito de dar aulas sobre ética enquanto janta no Jaburu, fora da agenda, com políticos que está julgando, como Michel Temer e Aécio Neves.

Ele pauta a discussão sobre os rumos do país, a necessidade ou não de reformas, o que é bom ou ruim para os brasileiros, o que é caixa 2 e o que é fiado, quem vai para o céu, quem desce para o inferno e quem fica no purgatório.

Em relação a Aécio, GM não faz questão de esconder nada, numa novela ruim cujos capítulos constrangedores vão se sucedendo ad eternum.

O lance mais recente é a autorização para prorrogar por sessenta dias o prazo para conclusão da investigação de dois inquéritos contra o “Mineirinho”

Um deles é sobre a maquiagem de dados na CPI dos Correios, em 2005, e a ligação entre o Banco Rural e o mensalão mineiro.

O outro é sobre Furnas, em que Aécio é acusado de receber propina do ex-diretor da estatal, Dimas Toledo, num esquema de desvio de recursos. Em novembro, Mendes já havia autorizado uma extensão de outros dois meses no mesmo processo.

Há dias, GM ridicularizou a proposta de Cármen de um plebiscito ou referendo para definir os pontos de uma reforma política.

“Essa ideia sempre aparece”, ironizou. “Eu acho um pouco difícil, tendo em vista a tecnicalidade. Daqui a pouco, vamos ficar perguntando sobre a qualidade da carne em plebiscito”. Boa, essa.

Cármen vai dando o ar da graça em eventos da Globo. Num tal encontro “E agora, Brasil?”, com mediação de Miriam Leitão e Merval Pereira, proferiu as platitudes de hábito.

“Tenho a convicção de que a luta pela democracia é permanente”, pontuou. “É o momento de despertar”.

Enquanto ela cochila de pijama, Gilmar toca o negócio.