Globo X Garotinho

Atualizado em 21 de setembro de 2014 às 11:14
A alegria de Garotinho
A alegria de Garotinho

O bate-boca entre a Globo e Garotinho sobre o célebre caso de sonegação da emissora mostra uma coisa: esta história tem que ser esclarecida.

Já.

As explicações da Globo são absolutamente inconvincentes. São mais complexas do que a patética fala da apresentadora Mariana Gross em que ela garantiu, aos telespectadores, que a Globo paga o que deve.

Mas são igualmente insuficientes: mais confundem que esclarecem.

Garotinho se aproveitou de estar ao vivo numa entrevista para, sob a pressão de perguntas agressivas, devolver a acusação.

O vídeo em que isso ocorreu viralizou na internet. Foi dar no YouTube, e lá a Globo vem tentando tirá-lo sem sucesso. Alguém posta de novo.

Para encurtar, documentos vazados pelo site Cafezinho mostraram, há cerca de um ano, que a Receita Federal flagrou a Globo num delito fiscal na compra dos direitos de transmissão da Copa de 2002.

A Globo tergiversou, e foi ajudada pelo silêncio da mídia e da própria Receita.

Agora, em resposta a Garotinho, ela afirma que acertou a dívida pelo Refis, um sistema de refinanciamento para devedores de impostos.

Mas um momento.

Por que o Refis para a Globo? Ela precisa? Não tem condições de pagar o que deve?

Dias atrás, foi noticiado que a Globo vendeu as cinco cotas do futebol de 2015 por cerca de 1,3 bilhão de reais.

Repito: 1,3 bilhão. Apenas isso é mais que todo o faturamento anual da Record, a emissora número dois.

Os três irmãos Marinhos são donos da maior fortuna do Brasil, combinado o que herdaram do pai.

Refinanciamento? Condições especiais?

Neste tipo de ação, a generosidade é feita com o dinheiro do contribuinte.

O devedor pode esticar o pagamento em demoradas parcelas. E as taxas de juros são maternais. Em 2014, elas são de 0,4167% ao ano.

A Selic, a taxa que norteia os juros no Brasil, está em 11%, quase 30 vezes mais que o que vigora no Refis.

É de interesse público saber por que a Globo foi beneficiada – esta a palavra – com as condições generosas do Refis.

Num mundo menos imperfeito, o Refis só seria concedido a devedores incapazes, realmente, de arcar com o que deixaram de pagar.

Melhor pegar parte do que nada do que é devido: esta a lógica.

É o caso da Globo?

Bem, invoco aqui o Duque de Wellington e sua frase definitiva: quem acredita nisso acredita em tudo.

Há muita pobreza no Brasil, muita desigualdade para que o dinheiro público seja tão camarada, tão complacente, tão permissivo com a bilionária Globo.

Dinheiro de imposto constrói escolas, hospitais, estradas, portos etc.

Mas a Globo parece ter outro entendimento.

Dinheiro de imposto, para ela, é para ser driblado – e com isso alimentar patrimônios pessoais.

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