Blade Runner 2

Atualizado em 19 de agosto de 2011 às 10:46
Tudo se perde no tempo como "lágrimas na chuva": a fala improvisada entrou para a história do cinema

“Tempo de morrer.”

Ainda hoje me toca o lamento pungente do andróide no final de Blade Runner num telhado sob um temporal, depois de sabe-se lá por quê ter salvado num terraço a vida do homem que matara seus amigos, suas mulher e quase a ele próprio? Há naquela cena uma metáfora estupenda, na qual é dito que tudo se perde “como lágrimas na chuva”. (A frase não estava no roteiro. Foi dita de improviso por Rutger Hauer, o ator que fez o líder dos andróides.)

Blade Runner, de 1982, baseado num romance de Philip Dick, não foi um campeão de bilheteria, mas em pouco tempo virou cult. Harrison Ford arrebentou no papel de caçador de andróides amotinados numa Terra em estado desolador no que era então o longínquo ano de 2019. A trilha sonora de Vangelis é uma obra prima dentro de uma obra prima.

Não à toa, num levantamento feito com um grupo de cientistas pelo Guardian, Blade Runner foi eleito o melhor filme de ficção científica de todos os tempos. Ficou muito à frente do segundo colocado, 2001, de Kubrick.

Falo disso tudo porque acabo de saber que vem aí Blade Runner 2, sob a direção, mais uma vez, do britânico Ridley Scott. Foi anunciada esta semana a continuação, provavelmente para 2014. Harrison Ford de novo? Provavelmente não. “Queremos tudo novo, incluído o elenco”, disse um dos produtores.

Não sou muito dado a rever filmes, embora reconheça que a cada vez você descubra coisas que perdera. Mas Blade Runner é uma exceção. Revi recentemente, por coincidência, duas vezes Blade Runner, a edição final e a versão do diretor.

O filme, como o livro de Dick, vai direto ao coração de todos porque o drama dos andróides – a vida curta e sem um sentido claro – é, no fim, o drama de todos nós.

Que estamos fazendo? Por que chegamos, por que partimos, tudo tão rapidamente?

Procuramos desde sempre respostas, mas elas se perdem – como resistir à imagem de Blade Runner? – “como lágrimas nas chuvas”.