Carta aberta a Chico: tire da Cultura a marca Roda Viva. Por Paulo Nogueira

Atualizado em 17 de novembro de 2016 às 11:28

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Caro Chico:

Você já parou para pensar no que estão fazendo com uma de suas marcas mais notáveis, Roda Viva?

É um trabalho de destruição semana após semana. Um bom exemplo disso é o programa desta semana com Michel Temer.

Alguém notou: a Cultura já tomara o Roda Viva para fazer propaganda do governo estadual. Agora está repetindo a dose com o governo federal.

Os valores ali — se é que se pode chamar de valores — são a exata negação dos propagados por você em Roda Viva, peça e música.

A plutocracia brasileira tem o mau hábito de se apropriar de tudo, como se fosse dela desde tempos imemoriais.

Mas Roda Viva é sua, sua e apenas sua — e do povo sofrido brasileiro, os Pedros Pedreiros.

Faça alguma coisa para que devolvam aos Pedros Pedreiros algo tão épico quanto Roda Viva. Recorra à Justiça.

Na prática, você estará agindo como recomendou, celebremente, o jurista alemão do passado Rudolph von Ihering.

Ihering defendeu a tese de que um injustiçado tinha o dever de procurar a Justiça em nome não apenas dele, mas da sociedade.

Quem não faz isso age como um verme e não tem do que se queixar, escreveu Ihering.

A Justiça se aprimora quando os injustiçados reclamam reparação, e toda a sociedade se beneficia disso. Era a grande e inovadora tese de Ihering.

Lula, recentemente, passou a fazer o que o jurista alemão prescrevia. Está processando publicações e jornalistas que o caluniam.

Você pode argumentar que a Justiça brasileira é leniente para esse tipo de coisa – destruir reputações de pessoas de esquerda, como Lula e você mesmo.

Mas você faz caluniadores pensarem duas ou três vezes antes de atacar sem provas alguém caso eles passem a ser processados.

A marca Roda Viva é sua.

Os plutocratas têm que enfrentar resistência. Os Pedros Pedreiros agradecem agora o que você lhes fizer para que algo que lhes foi vergonhosamente tomado.

Mando-lhe, por fim, um abraço de quem é grato por tantas coisas boas que você nos proporcionou e proporciona — incluída aí Roda Viva.

Paulo Nogueira