Como Cristovam Buarque, o “Reitor” da Odebrecht, tornou-se um dos políticos mais desprezados do país. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 12 de dezembro de 2016 às 13:17
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Um espectro ronda o Brasil: o espectro do desprezo a Cristovam Buarque.

Uma das notas mais lidas do DCM, há alguns dias, é a respeito do apelido que ele tinha na Odebrecht, segundo o termo de delação do executivo Cláudio Melo Filho.

Diz Melo Filho:

Ao longo desses anos, mantive contatos mais frequentes com os seguintes agentes políticos: João Almeida, Renan Calheiros, Moreira Franco, Bruno Araújo, Heráclito Fortes (…).

Além disso, em casos mais episódicos, mantive algum contato com os seguintes agentes políticos: Luiz Carlos Hauly, Carlos Sampaio, Cristóvam Buarque, Fábio Ramalho, Marco Maia, Ricardo Ferraço, Eunício Oliveira, Arlindo Chinaglia, Mendonça Filho (…)

Alguns desses parlamentares me solicitaram patrocínio financeiro, na forma que relatarei em seguida. Os pagamentos destinados a agentes políticos que eram indicados por mim dentro da minha empresa eram aprovados por Marcelo Odebrecht, pelos presidentes ou pelos diretores dos negócios. Isso não retira, por evidente, o peso do meu apoio a um determinado pagamento dentro da empresa. Os agentes políticos sabiam do peso da minha opinião favorável dentro da empresa e eu sempre usei isso em meu favor.

Mais adiante, há uma outra menção quando se refere aos condinomes dos políticos:

REITOR (Consta em campo específico a pessoa de RF no DF, que acredito ser Ricardo Ferraz. Me foi dito que essa indicação refere-se a Cristovam Buarque, por ter sido Reitor da Universidade de Brasília.)

 

Cristovam tornou-se, seguramente, um dos parlamentares mais odiados do país. O papel que teve no impeachment e sua defesa atabalhoada da PEC do teto de gastos públicos contribuíram decisivamente para esse quadro.

Cristovam esteve quatro vezes no Palácio da Alvorada com Dilma, negociando trechos da carta que ela iria divulgar em defesa do plebiscito por novas eleições, tese que ele encampava.

Pediu mudanças acerca de temas econômicos, mas sua maior insistência foi com relação à palavra “golpe”. Ela deveria ser retirada, falava.

Cristovam era sempre “o cara mais difícil”, disse uma fonte do Planalto ao DCM.

Em seu discurso no planário do Senado, quando o relatório de Anastasia obteve 59 votos a favor e 21 contra, Cristovam declarou que “há meses o Brasil está dividido nas ruas e dentro do Senado entre os que desejam interromper o mandato da presidente a qualquer custo e os que desejam mantê-lo a qualquer custo”.

Ele votaria “no melhor para o Brasil e não na alternativa mais simpática, mesmo que isso significasse suicídio político e sentimental”.

Por fim: “Voto pela aprovação do parecer da comissão. A volta do governo Dilma significaria a volta do mesmo modelo”.

Cristovam era tido como um dos “indecisos”, como Romário. Na prática, como Romário, o que ele estava fazendo era valorizar seu passe. Como quem tem a caneta era Temer, fechou com ele.

Muita saliva e muita tinta foram gastas no sentido de apelar para sua consciência, seu passado ou algo que os valha.

Confuso, cada entrevista sua tentando se justificar perante seu eleitorado cai no patético. Ao El Pais, admitiu que “o PSDB, esse pessoal e eu, estamos tentando salvar o Brasil dando um tiro no pé”.

Agora, quando o governo está no bico do corvo, envolvido até o pescoço em denúncias, acha que “temos que centrar esforços ao redor de Michel Temer e fazer com que ele seja nosso centro”.

O “Reitor” não desferiu apenas um tiro no pé. Deu o abraço do afogado em Michel e sua curriola e está agonizando junto com eles em praça pública.