Como é o Partido do Futuro

Atualizado em 25 de junho de 2013 às 17:11

“Uma democracia direta instrumentalizada pela Internet”, diz o sociólogo Manuel Castells, estudioso dos movimentos sociais na Era Digital.

O Partido X, da Espanha
O Partido X, da Espanha

Manuel Castells é um sociólogo espanhol que tem se dedicado a estudar os movimentos sociais na Era Digital. Seu livro mais recente, Redes de Indignação e Esperança, faz uma investigação sobre as sublevações que ocorreram nos últimos anos na Espanha (com os “indignados”), na Islândia, nos Estados Unidos e no Oriente Médio.

Castells tem sido citado quando o assunto são os protestos. Ele acha que as manifestações são resultado de uma nova forma de participação dos cidadãos e surgem a partir de uma reação indignada a algo injusto. “O problema está na política e na incapacidade dos partidos de ser independentes em relação ao poder econômico”, diz.

Castells é um entusiasta do Partido X, o Partido do Futuro, criado na Espanha por membros do 15-M (referente ao 15 de maio de 2011, quando 40 pessoas acamparam em Madri e acabaram detonando uma onda de passeatas em todo o país, cujo intuito principal era promover uma democracia mais participativa).

O Partido X, escreveu Castells, é “um método experimental para construir uma democracia sem intermediários, que substitua as instituições atuais, deslegitimadas na mente dos cidadãos”. Ele acredita que o projeto “não é o de ser uma minoria parlamentar, mas mudar a forma de fazer política. Por meio de democracia direta, instrumentalizada pela internet: propondo referendos sobre temas-chave; coelaborando propostas legislativas mediante consultas e debates no espaço público, urbano e cibernético; com medidas concretas, a serem debatidas entre a cidadania e servindo de plataforma para propostas que partam das pessoas”.

“Não existe ‘o movimento’ com estrutura organizativa nem representantes, mas pessoas em movimento que compartilham de uma denúncia básica às formas de representação política que desarmam as pessoas ante os efeitos de uma crise que não causaram, mas que sofrem a cada dia”.

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“No fundo, trata-se de pôr em primeiro plano a política das ideias, com a qual enchem a boca os políticos — enquanto fazem sua carreira acotovelando-se entre si. A personalização da política é a maior cicatriz da liderança ao longo da história, a base da demagogia, da ditadura do chefe e da política do escândalo, baseada em destruir pessoas representativas. O “X” adotado como símbolo pelo partido do futuro não é para esconder-se, mas para que seu conteúdo seja recheado pelas pessoas que projetem, nesse experimento, seu sonho pessoal num sonho coletivo: democracia e ponto.”

Castells foi um dos convidados da série de palestras Fronteiras do Pensamento. O site nenotícias transcreveu sua resposta quando perguntado a respeito dos protestos no Brasil:

“Fundamentalmente, os cidadãos do mundo não se sentem representados pelas instituições democráticas. Não é a velha história da democracia real, não. Eles são contra esta precisa prática democrática em que a classe política se apropria da representação, não presta contas em nenhum momento e justifica qualquer coisa em função dos interesses que servem ao Estado e à classe política, ou seja, os interesses econômicos, tecnológicos e culturais. Eles não respeitam os cidadãos. É esta a manifestação. É isso que os cidadãos sentem e pensam: que eles não são respeitados.

Veja que interessante é o caso da Praça Taksim e do Parque Gezi, em Istambul. Há meses, eles estão protestando contra a destruição do último parque no centro histórico da cidade, onde seria construído um shopping center, um complexo dedicado aos turistas, que nega aos jovens o espaço que poderiam ter para se relacionar com a natureza, para se reunir, para existir como cidadãos. Portanto, é a negação do direito básico à cidade. O direito, como disse Henri Lefebvre, de se reunir e ocupar um espaço sem ter que pagar, sem ter que consumir ou pedir permissão a autoridades.

O que muda atualmente é que os cidadãos têm um instrumento próprio de informação, auto-organização e automobilização que não existia. Antes, se estavam descontentes, a única coisa que podiam fazer era ir diretamente para uma manifestação de massa organizada por partidos e sindicatos, que logo negociavam em nome das pessoas. Mas, agora, a capacidade de auto-organização é espontânea. Isso é novo e isso são as redes sociais. E o virtual sempre acaba no espaço público. Essa é a novidade.”

Os "indignados" na Porta do Sol, em Madri
Os “indignados” na Porta do Sol, em Madri