‘Entrevista com Escritores Mortos’ 17: Montesquieu

Atualizado em 3 de julho de 2015 às 18:41
"Como falta luz ao elogio, quando este reflete para o mesmo lugar de onde procede!"
“Como falta luz ao elogio, quando este reflete para o mesmo lugar de onde procede!”

Em 1721, Montesquieu, um dos filósofos que mais influenciaram os revolucionários franceses de 1789, publicou um romance chamado Cartas Persas, que segundo contemporâneos “vendeu como pão recém saído do forno”. Epistolar, o livro contêm reflexões sobre diversos temas – amor, liberdade, religião e islamismo. As frases abaixo foram retiradas dessa obra prima. É mais um capítulo de nossa série “Conversas com Escritores Mortos”, em que já entrevistamos gênios como Tolstói, Sêneca e Virginia Woolf.

Em seu romance epistolar Cartas Persas, o senhor alega que um dos piores defeitos que uma pessoa pode ter é a falta de modéstia. Como assim, Monsieur?

Encontramos, por toda a parte, pessoas que não param de falar de si mesmas; sua conversa é um espelho que apresenta, o tempo todo, uma impertinente figura. Além de não sentir o mínimo interesse pelos outros, falam das menores coisas que lhes sucederam, e pretendem que o interesse pessoal que por elas sentem as engrandeça aos olhos de todos. Não há nada pior do que a companhia de um egocêntrico.

O que define as pessoas egocêntricas?

Tudo fizeram, tudo viram, tudo disseram, tudo pensaram; constituem um modelo universal, um tema inesgotável de comparação, uma fonte de exemplos que nunca seca.

Para quem isso é mais prejudicial – para o próprio egocêntrico ou para o ouvinte?

Para o ouvinte, principalmente, porque sente uma genuína vontade de se enforcar. E, ah!… Como falta luz ao elogio, quando este reflete para o mesmo lugar de onde procede!

O que podemos fazer para não agir dessa maneira?

Pode parecer contraditório, mas a vaidade é muito útil. Feliz quem é tão vaidoso que nunca elogia a si mesmo, que receia seus ouvintes e não compromete o próprio mérito com a arrogância alheia.

E o que define a virtude?

A discrição. Conheci pessoas em quem era tão natural a virtude que mal se fazia perceber – e, assim, tais pessoas se consagravam ao dever sem necessidade de dobrar-se a ele, e seguiam-no como que por instinto. Longe de se vangloriar de suas preciosas qualidades, parecia que sequer as notavam.