Depois de concretizar um golpe machista no STF, Carminha vem com discurso feminista. Por Nathalí Macedo

Atualizado em 27 de outubro de 2017 às 20:11
Cármen Lúcia

A ministra do STF Carmen Lúcia parece ter, finalmente, descoberto o óbvio: “A sociedade brasileira é patrimonialista, machista e muito preconceituosa”, disse, em evento que discutia a participação feminina na política, ocorrido na última quinta-feira.

Não diga, ministra. Nós, mulheres sem patrimônio, nunca havíamos notado, de modo que sua colocação é realmente muito esclarecedora.

No evento em questão – que buscava fomentar a visibilidade política feminina — spoiler: no governo Temer, é zero -, ela falou, em tom de revolta, que “todos os poderes, por exemplo, de cargos públicos, Judiciário, Ministério Público ou mesmo advocacia, são cargos que tiveram modelos segmentados socialmente para homens e pelos homens” , brindando-nos, novamente, com mais uma grandessíssima novidade.

Ela fez um caloroso discurso sobre feminicídio e a necessidade de intervenção do poder público nas questões de gênero.

Não força, Carminha.

A senhora e os rapazes do STF compactuaram e ajudaram a concretizar um golpe machista.

A senhora, sem necessidade aparente, fez com que Dilma Rousseff explicasse por que chamou o golpe de golpe – não é óbvio? -, e a senhora, num acesso de estrelismo jurídico e linguístico, questionou o termo “presidenta”, mesmo havendo – aposto que há – pautas muito mais urgentes empoeiradas na sua mesa.

Pode até, à primeira vista, parecer, mas feminismo não é bagunça: é um movimento político e social organizado, um discurso que busca a coerência, e não uma saída quando nos convém.

Não se trata de um discurso mágico que qualquer mulher pode invocar ao seu bel prazer, embora muitas o façam.

O seu feminismo, aliás, não convenceria nem mesmo se a senhora mostrasse os peitos na marcha das vadias.

Os modos com os quais a senhora fala das mulheres são machistas; a maneira como a senhora trata as pautas de interesse das mulheres é machista; e seu posicionamento diante de um golpe machista foi, sem dúvida, machista.

Usar um movimento tão sério e tão antigo como discurso de conveniência não é só desonesto, é também patético demais para uma mulher na sua idade.

O feminismo existe para todas: brancas, pretas, jovens, senhoras, jovens senhoras, pobres, ricas, trans, cis. Mas o feminismo não existe para oportunistas – como me parece o seu caso.

Toque o feminismo apenas quando ele tocá-la – já que a senhora, acaso não lhe ocorra, pode fazer muitas coisas pelas mulheres brasileiras sobre as quais tanto discursa.