Diante do ministério barra pesada de Temer, Bicudo e outros artífices do golpe tentam lavar as mãos. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 12 de maio de 2016 às 21:58

 

Hélio Bicudo, um dos autores do pedido de impeachment, gravou um vídeo na tarde em que Senado aprovou o afastamento de Dilma.

O jurista se declara “muito feliz ao perceber que a iniciativa de três cidadãos indignados com a corrupção e a incompetência de Dilma, Lula e PT” obteve sucesso.

Continua: “Mas, com a mesma liberdade e o mesmo sentimento patriótico, devo externar minha preocupação com as recentes noticias sobre a formação do novo governo. O povo brasileiro foi às ruas para repudiar a cleptocracia comandada pelo PT. Não foi às ruas para sofrer mais um desapontamento.”

Cristovam Buarque, no mesmo dia, escreveu no Twitter: “Ficou estranho um ministério sem mulheres, sem representantes de minorias e dos movimentos sociais”. Miriam Leitão foi na mesma linha: “Ministério só de homens é retrocesso de décadas”.

Bidu. O time de notáveis de Temer era uma ficção que durou três horas e meia. Sempre esteve na cara que ele não faria nada diferente do que fez nas últimas décadas.

Crianças, vítimas de traumas e inocentes úteis têm o direito de se surpreender. Adultos, não. Bicudo, Cristovam e Miriam, não. Eles ajudaram a criar o caldo de cultura golpista. Estava no script que Temer assumiria a reboque de sua gangue, o PMDB. Esperavam um Churchill?

Temer montou o time dos sonhos da fisiologia e da corrupção, a começar pelo capitão. Ministros estão sendo investigados na Lava Jato. O que valeu com Lula, barrado da Casa Civil sob a justificativa de que queria fugir da Justiça, não vale com eles.

Geddel Vieira Lima, nomeado para a Secretaria de Governo, aparece no celular que a PF apreendeu de Leo Pinheiro, ex-presidente da OAS, em mensagens que mostrariam sua atuação em benefício da empreiteira.

Ele teria solicitado doações da OAS para sua campanha ao Senado e para outros políticos do PMDB baiano. Henrique Eduardo Alves, que retorna ao Turismo, é outro que vai recuperar o direito de ser julgado pelo STF caso avancem as investigações na Lava Jato. O celular de Pinheiro traz menções a doações para sua campanha solicitadas por Eduardo Cunha.

Romero Jucá, do alto comando temerista, conspirador de primeira hora, assume o Planejamento. Jucá é investigado em dois inquéritos na Lava Jato, um deles para rastrear propina em contrato da usina Angra 3. Suspeita-se, igualmente, de lobby junto à OAS e à Andrade Gutierrez.

Ainda temos o inacreditável Kassab na Comunicação e um bispo da Igreja Universal, Marcos Pereira, na pasta do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.

Tem tudo para dar errado e, infelizmente para os brasileiros, vai dar. E agora? Em 1964, Carlos Heitor Cony ajudou a escrever os antológicos editoriais “Basta!” e “Fora!”, publicados no Correio da Manhã, nos quais se clamava pela deposição de João Goulart.

Na mesma semana, arrependido, fez um belo artigo chamado “A Revolução dos Caranguejos”. “Nós andaremos para a frente, apesar dos descaminhos e das ameaças”, dizia. Etc.

Conhecido pelo pessoal do Pasquim como Carlos Heitor Conyvente, foi trabalhar com Adolpho Bloch, ganhou depois uma Bolsa Ditadura e, há poucas semanas, se manifestou sobre a crise política: “Evito o terrível cativeiro de me tornar refém de Dilma e Lula. Desejo que ambos se f…”

Cony fez escola. Por favor, parem com o falso mea culpa e abracem o Michelzinho e seu pacote.