“Dirceu vai processar quem invadiu seu prédio e continuará sugerindo estratégias ao PT”: Gilberto Carvalho fala ao DCM

Atualizado em 7 de maio de 2017 às 10:53

POR RIBAMAR MONTEIRO, de Brasília.

Desde que chegou a Brasília saído da prisão, José Dirceu tem sido alvo de perseguição por parte de milícias fascistas.

Na quinta-feira, dia 4, manifestantes quase agrediram o petista na garagem do prédio onde foi morar com a mulher e a filha de 6 anos.

O Correio Braziliense publicou seu novo endereço. Vale lembrar que o jornal do DF apoiou o golpe contra Dilma Rousseff e faz parte do grupo Diários Associados, bastante influenciado por Aécio Neves em Minas Gerais, onde tem o Estado de Minas.

O DCM conversou com Gilberto Carvalho, ex-secretário-Geral da Presidência de 2011 a 2015, que esteve com Dirceu na última semana.

Ele falou das expectativas do PT em relação à atuação de Dirceu e dos eventos que estão sendo preparados em Curitiba para o depoimento de Lula ao juiz Sergio Moro no dia 10.

DCM – No contexto atual, o que significa a saída de José Dirceu da prisão?

Gilberto Carvalho – Recebemos com muita alegria a libertação do Zé e sua chegada a Brasília porque, além do aspecto afetivo, é um primeiro sinal do Supremo para conter os excessos da Lava Jato. O STF mostrou que a operação tem limites, não pode continuar fazendo o que quiser, nem interferir na execução do devido processo legal, a não ser para cumprir o que está determina a democracia brasileira.

O que representa José Dirceu para o PT?

O Zé é uma uma referência histórica, pedagógica. Ele tem uma lucidez, poder de análise e uma forma de pensar estrategicamente que é muito impressionante, e que tem servido historicamente ao partido. O PT não teria chegado onde chegou se não fosse sua forte capacidade de liderança e de formulação. É um mestre.

Como vai ser a atuação política de José Dirceu?

A atuação dele contra o golpe, mesmo com todas as limitações impostas, é muito importante. Mas sabemos que no momento atual, e ele mesmo nos explicitou isso, todos os cuidados serão tomados para cumprir, rigorosamente, aquilo que está determinado nos autos de sua soltura.

Não é de se esperar do Zé uma posição de vanguarda, com presença em atos públicos, envolvimento em debates de grande alcance político, mas sabemos que ele será muito útil nos ajudando a formular novos caminhos nesse momento difícil, sugerindo, discutindo de táticas, estratégias, sem provocar qualquer problema na execução do processo.

Como vê o papel da imprensa no episódio da invasão ao prédio onde ele está morando em Brasília?

É lamentável a posição do Correio Braziliense, que virou um panfleto do ódio contra o PT, celebrando isso sempre que pode. Dois jornalistas desse jornal acabaram publicando o endereço.

E o Zé vai processar, sim, aqueles que invadiram a garagem, porque foi uma ação que prejudicou muito, inclusive sua esposa, vítima do gás pimenta espalhado, e sua filha, que estava numa alegria imensa, e ficou assustada ao ver todo aquele tumulto.

Por meio das câmeras do circuito interno do condomínio estão sendo identificados os invasores, alguns são fotógrafos que, infelizmente, cumprem o triste papel de ajudar a transformar a imprensa não em um veículo de informação democrático, mas em exacerbação do discurso da intolerância.

Diante do ocorrido, há preocupação em relação à segurança e integridade física dele?

Infelizmente o ódio que se esparramou pela sociedade fez com que um bando de picaretas fosse perturbar a paz da família do Zé e de todo o edifício, a ponto de a polícia ter de intervir com bombas de gás lacrimogêneo. Eu acredito que isso vai passar em poucos dias.

Essa carga de ódio não tem como se manter. O Zé está apenas cumprindo o que o STF determinou. Combinamos que não faremos manifestação no prédio, só estaremos lá para defendê-lo do ódio desses que não entendem que a convivência com pontos de vista diferentes é própria da democracia.

Sobre o depoimento de Lula em Curitiba, quais as expectativas?

O PT está se mobilizando e já há uma programação vasta. Estamos organizando atos para os dias 9 e 10 de maio, na capital do Paraná, em solidariedade ao Lula. Teremos uma aula pública na Universidade Federal do Paraná, com a presença de juristas, para debater questões que envolvem a Lava Jato as reformas propostas pelo governo Temer.

Estranhamos a posição da Prefeitura da capital paranaense e da Secretaria de Segurança Pública que, ao invés de nos facilitar espaços para acampamento e montagem de um palco, tem criado obstáculos. Na segunda vamos dialogar e tentar um acordo. Até porque quanto mais assistência, mais segurança para todos.

E como vê a possível proibição, por parte da Justiça, da transmissão ao vivo do depoimento?

A ideia é acompanharmos ao vivo, por vídeo ou áudio. Se o juiz Moro proibir – parece ter vergonha da transparência, permitindo vazamentos seletivos -, continuaremos os debates programados, também com teatro, música e outras manifestações.

Será um momento histórico contra o golpe e as reformas trabalhista e previdenciária, sem pregação de ódio e baderna.