Doria é garoto propaganda de empresas envolvidas em corrupção, uma delas na Lava Jato. Por Joaquim de Carvalho

Atualizado em 15 de abril de 2017 às 9:41

 

Doria fazendo marketing para consórcios ficha suja

Na reportagem anterior desta série patrocinada por crowdfunding, foi contado como o prefeito de São Paulo, João Doria, se tornou milionário com a criação do Grupo de Líderes Empresariais, que é basicamente uma associação que, através de eventos, aproxima empresários de autoridades, principalmente políticas.

Doria é dono de uma das dez mais valorizadas casas de São Paulo e tem um jato Legacy 650, que vale quase 30 milhões de dólares. Para criar e consolidar o Lide, Doria contou com o apoio financeiro e incentivo do dono da Amil, Édson de Godoy Bueno.

Sua empresa de plano de saúde, com sede no Rio de Janeiro, ampliou sua participação no mercado de São Paulo depois da aproximação com Doria. Bueno tinha influência tanto sobre Doria quanto sobre o governador Geraldo Alckmin e foi um dos incentivadores da candidatura do afilhado à prefeitura de São Paulo.

Bueno morreu de enfarte um mês e meio depois da posse de Doria na Prefeitura de São Paulo. Na missa de sétimo dia, Doria fez um discurso e, emocionado, disse que o presidente da Amil foi como um pai para ele.

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O presidente do Tribunal de Contas do Município, Roberto Braguim, tem sobre sua mesa um ofício que pode se transformar no primeiro grande abacaxi de João Doria na Prefeitura de São Paulo.

O controvertido vereador Adilson Amadeu, que integra praticamente todas as CPIs de repercussão na Câmara Municipal de São Paulo, denunciou a piora nos serviços de limpeza urbana na cidade.

“Pelo que se notou, na avaliação da população, são que os serviços tiveram piora expressiva, basta consultar as Prefeituras Regionais, onde acabam desaguando a maioria das reclamações”, disse ele, no ofício enviado ao Tribunal de Contas do Município.

Os consórcios Soma – Soluções e Meio Ambiente e Inova – São Paulo Ambiental são responsáveis pela maior parte dos serviços de limpeza em São Paulo.

O contrato com as duas empresas já venceu, mas elas continuam prestando serviços. É que, no final do ano passado, ainda no governo de Fernando Haddad, o contrato foi prorrogado por doze meses, ao custo de mais de R$ 700 milhões.

Doria assumiu e, em vez de iniciar o processo de licitação para a escolha de novas empresas, se tornou garoto propaganda da Soma e Inova. 

Passou a usar uniforme de gari, com duas diferenças: sua vestimenta tem corte ajustado por um alfaiate e o logo das empresas é o dobro do tamanho do original.

Mas a qualidade do serviço de limpeza urbana caiu. Num levantamento divulgado pela Folha de S. Paulo, no primeiro mês da gestão de Doria, a quantidade de lixo recolhido recuou 3,7% sobre o mesmo mês do ano passado (janeiro): de 8 mil toneladas para 7.732 toneladas.

O contrato da prefeitura com as empresas de limpeza urbana prevê um número mínimo de equipamentos (1.229) e de funcionários na limpeza (12.896).

A suspeita, que o TCM foi instado a investigar, é que esse número tenha caído e a prefeitura não esteja fiscalizando corretamente os serviços.

É por esta razão que as queixas por sujeira na rua aumentaram nas prefeituras regionais.

A manutenção dos dois consórcios na limpeza urbana de São Paulo se tornou um problema para a prefeitura, não só por conta da ineficiência.

É que os dois consórcios estão envolvidos em denúncias graves de corrupção.

O contrato com a Inova é de 2011, celebrado na gestão de Gilberto Kassab, e quem assina pelo consórcio contratado é Carlos Alberto Alves de Almeida, que responde a processos de improbidade e corrupção em pelo menos dois municípios: Montes Claros, Minas Gerais, e Rio Grande, no Rio Grande do Sul.

Os processos se referem a serviço de varrição de rua e coleta de lixo.

Outro que assina pelo consórcio é Marcelo Mello Buzzetto, que fugiu para Lima, no Peru, para não ser preso por denúncias de corrupção em contratos no Rio Grande do Sul.

A Soma – Soluções e Meio Ambiente é um consórcio formado por três empresas, que tem como líder a Delta Construções, cujo proprietário, Fernando Cavendish, foi preso no Rio de Janeiro.

O contrato com a prefeitura de São Paulo foi assinado também em 2011 pelo diretor da Delta nas áreas de São Paulo e região Sul, Heraldo Puccini Neto, denunciado nesta quinta-feira, dia 14, pelos crimes de lavagem de dinheiro e formação de quadrilha.

A denúncia, assinada pelo procurador Leandro Mitidieri Figueiredo, coloca Puccini como integrante da quadrilha de Fernando Cavendish e o bicheiro Carlinhos Cachoeira.

Juntamente com outras vinte pessoas, Cavendish, Cachoeira e Puccini contratavam (ou ordenavam a contratação) de empresas de fachada para lavar dinheiro público desviado.

Segundo a denúncia, o esquema foi descoberto a partir de um desdobramento da Lava Jato.

Empresas usadas na Lava Jato para triangular recursos que iam parar no bolso dos políticos eram as mesmas.

A Soma e a Inova estão na lapela do uniforme de gari de João Doria, em tamanho grande.

Por trás dos dois consórcios, estão homens acusados de corromper autoridades.

O projeto de limpeza de Doria tem um nome fantasia – Cidade Linda –, mas, revirando o lixo, se descobre coisas muito feias, principalmente para quem diz ser “gestor”, não político.

Na lapela do gestor, se vê Soma e Inova, mas também se pode ler Carlinhos Cachoeira e Lava Jato.

PS: Solicitei entrevista ao prefeito João Doria no dia 30 de março, através de sua assessoria de imprensa, mas ainda não obtive resposta.