Duda Nagle não é o único idiota útil que ajudou a instituir um governo que tirou o emprego da mãe. Por Sacramento

Atualizado em 17 de dezembro de 2016 às 9:11
Duda com Gentili
Duda com Gentili

 

A campanha do ator Duda Nagle pela manutenção do emprego da mãe é o mais recente exemplo da combinação de hipocrisia e ingenuidade dos manifestantes que saíram às ruas de verde e amarelo pelo impeachment da presidente Dilma, o fim da corrupção e contra “tudo que está aí na política nacional”.

Filho da jornalista Leda Nagle, ele aderiu à campanha #FicaLedaNagle, lançada nas redes sociais após o anúncio da demissão de sua mãe da TV Brasil. Tudo normal, não fosse um pormenor irônico. O dublê de modelo e ator teve uma fração de responsabilidade pelas mudanças que provocaram a saída de Leda Nagle da emissora.

Duda esteve entre os milhares a reivindicar mudanças na presidência da República. O sonho dos batedores de panelas se concretizou e Michel Temer assumiu o governo. Uma das primeiríssimas medidas foi mexer na Empresa Brasileira de Comunicação (EBC), gestora da TV Brasil, canal onde Leda Nagle apresenta o programa “Sem Censura”.

Para o presidente mesoclítico, a EBC era considerada “um antro de petistas”, conforme o jornalista Chico Sant’Anna escreveu em um artigo do Observatório da Imprensa onde explica o desmantelamento da EBC pelo governo Temer.

Duda Nagle foi às ruas e ajudou a ascensão do grupo responsável pela demissão da mãe. O atual diretor-presidente da EBC, Laerte Rimoli, foi nomeado quando Temer ainda era interino. Jornalista, Rimoli tem no currículo a coordenação da campanha de Aécio Neves em 2014 e a assessoria da Câmera de Deputados nos tempos de Eduardo Cunha.

De acordo com relato da jornalista veterana, ele não hesitou na hora de demitir a profissional com mais de 40 anos de experiência. “Não houve nenhuma proposta de redução do valor do contrato, nenhuma tentativa de composição, nem nas reuniões anteriores nem a uma hora da tarde de ontem, quando Laerte Rimoli me demitiu. Foi assim. Foi muito feio. Fiquei e estou muito triste”, escreveu Leda Nagle no seu perfil no Facebook.

É bem provável que faltou ao jovem Nagle perspicácia para perceber as verdadeiras intenções dos protestos domingueiros “contra a corrupção”. Se foi por ingenuidade que contribuiu para a demissão da própria mãe, vida que segue, ele não está sozinho.

Muitos dos que dançaram a coreografia do “Seja Patriota” meses atrás gostariam hoje de ser um jabuti para poder se esconder dentro da própria carapaça.

Por outro lado, houve manifestantes que não tiveram escrúpulos de pedir retidão política mesmo tendo um currículo mais enlameado que o leito do Rio Doce após o rompimento da barragem da Samarco.

Gente como Renan Santos, do MBL, réu em pelo menos 16 ações cíveis e 45 processos trabalhistas.

Um desses arautos da moralidade foi o pastor Silas Malafaia, alvo de um mandado de condução coercitiva expedido pela Operação Timóteo, da Polícia Federal. Malafaia é suspeito de emprestar contas bancárias de instituições religiosas para lavar dinheiro de esquemas de corrupção.

Mais um motivo para o Duda Nagle olhar suas fotos estilo micareta nas manifestações e pensar, com uma ponta de arrependimento, na sandice onde foi se meter.

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