E a única pessoa que verdadeiramente se bateu contra a corrupção está sendo afastada. Por Paulo Nogueira

Atualizado em 24 de agosto de 2016 às 17:46
Cúmulo do absurdo
Cúmulo do absurdo

E então estamos chegando a uma situação que desafia qualquer noção de racionalidade.

A única pessoa que verdadeiramente se bateu contra a corrupção nestes últimos anos está sendo afastada.

Como a posteridade vai explicar isso?

Seus algozes deveriam estar com tornozeleira, de Temer a Aécio, de Renan a Serra, para não falar em Eduardo Cunha, o grande articulador do golpe.

E no entanto é Dilma quem vai sair.

Todos os dias políticos que animavam as marchas contra a corrupção aparecem nas páginas policiais, apanhados em roubalheiras dantescas.

E é Dilma quem vai sair.

Está claro que a Lava Jato só continuaria se Dilma permanecesse no poder. Mas isso jamais iria ocorrer no mundo das coisas concretas.

O objetivo da Lava Jato era um e apenas um: derrubar Dilma.

Moro mostrou seu lado desde o início. O símbolo máximo disso foram fotos que tirou, sorridente, deslumbrado, ao lado de companheiros na guerra contra o PT: barões da mídia e caciques do PSDB.

Não adianta um delator dizer que deu 23 milhões de reais a Serra, de forma escusa, para a campanha de 2010. Podiam ser 23 bilhões. Isso não interessa a Moro, aos homens da Lava Jato e muito menos a mídia plutocrática.

Não adianta Aécio ser multicitado em roubalheiras, como a ancestral pilhagem na estatal Furnas. Mas o pedalinho de Lula é objeto de perseguição feroz.

Não adianta ficar provado que o Triplex do Lula não é do Lula. Ninguém dá nada. Mesmo os que afirmaram categoricamente que o apartamento pertencia a Lula não se dão ao trabalho de esclarecer a seus leitores a verdade.

O que importa é destruir a reputação de Lula, mesmo que com mentiras, falsificações, manipulações.

Tudo por um único objetivo: dar um golpe como aconteceu em 1954 e em 1964.

Não há tanques? Há uma Justiça que pode desempenhar o mesmo papel. Não existem militares para varrer a democracia? Há juízes como Moro e Gilmar. E sempre existem os barões da imprensa, na defesa bélica de seus privilégios e de suas mamatas.

Dilma não cometeu o crime pelo qual será derrubada? Não faz mal. É um julgamento político. Os fatos que se danem. Ela poderia ser acusada de andar mal de bicicleta, e ainda assim seria removida.

E assim chegamos ao fim da jornada contra a corrupção, um dos episódios mais hipócritas, farisaicos, canalhas da história da República. Ficam os Jucás, os Aécios, os Temeres. Ficam os Renans, os FHCs, os Serras.

Fica até Cunha.

A única pessoa verdadeiramente honesta é a vítima solitária.