Falei ontem, num artigo sobre o livro de memórias de Samuel Wainer, sobre o que ele chamou de “Conspiração do Silêncio” da imprensa contra Vargas.
Notícia boa sobre Vargas não saía.
Você tem hoje também uma “Conspiração do Silêncio” na mídia.
Enriquecida, a rigor: notícia boa sobre o governo, tal como antes, também não sai. A novidade é que o silêncio se estende também para coisas negativas sobre os amigos da mídia.
Ninguém deu, por exemplo, o caso espetacular da Paraty House, a mansão praieira dos Marinhos que é um triunfo da grilagem e do desrespeito às leis ambientais.
Quer dizer.
Ninguém tinha dado. O silêncio foi magnificamente rompido pela coragem da cartunista Laerte, na Folha. Em sua charge, Laerte expôs a hipocrisia da imprensa – e também da PF — ao lançar tantos holofotes sobre o ‘Triplex do Lula’ e calar sobre o dos Marinhos.
Não foi um gesto grande senão por mostrar a pequenez indecente da imprensa e da PF. Voz grossa contra Lula, voz fina e covarde contra a plutocracia encarnada na Globo.
É uma charge que desde já, por isso, entra na história.
Imagino aqui o caminho penoso para publicá-la. É certo que a decisão final foi dos Frias. É certo também que os Marinhos, sócios deles num jornal de economia, ficaram furiosos. Vão retaliar tão logo possam.
E é previsível que os Marinhos liguem hoje para os Frias para externar sua indignação.
Batata, também, é que os Frias entenderam não haver outra saída se não publicar.
Isso por causa da internet. A charge censurada viralizaria nas redes sociais. Os danos na imagem para o “jornal sem rabo preso com ninguém” – pausa para uma gargalhada – seriam enormes.
A Folha publicou contrariada, sabendo que pior do que dar a charge era não dar.
O futuro de Laerte na Folha é uma incógnita, daqui por diante. Ninguém vai mexer com ele enquanto o cadáver estiver fresco, para evitar um escândalo.
Sobre o que o teria levado a fazer a charge, suspeito que seja a exaustão sobre a canalhice do jornalismo feito pela Folha.
Com Xico Sá aconteceu isso: ele saiu dando tiros na Folha depois que se esgotou sua capacidade de engolir barbaridades num jornal com o qual parecia casado.
É uma realidade das redações hoje. Ou você é fâmulo, e se presta a fazer o serviço sujo dos patrões, ou o ar se torna irrespirável.
Seja como for, Laerte rompeu a “Conspiração do Silêncio” e com isso prestou um serviço não apenas ao jornalismo, mas à sociedade.
Clap, clap, clap.
De pé.
ATUALIZAÇÃO
A advogada Mariana Gaspar enviou ao DCM o seguinte email:
Prezados Senhores,
JOÃO ROBERTO MARINHO, brasileiro, casado, jornalista, com endereço profissional na Rua Lopes Quintas 303, Jardim Botânico, na cidade e Estado do Rio de Janeiro, vem, por meio da presente, NOTIFICÁ-LO do que se segue:
A notícia é inverídica, pois a casa em questão e as empresas citadas na matéria não pertencem, direta ou indiretamente, ao notificante ou a qualquer um dos demais integrantes da família Marinho.