E se Pizzolato decidir contar o que sabe na Itália?

Atualizado em 10 de novembro de 2014 às 15:25
Na Itália, ele pode ser ouvido
Na Itália, ele pode ser ouvido

A cinematográfica fuga de Pizzolato para a Itália tem um curioso efeito colateral sobre o mundo político nacional.

Na Itália, Pizzolato vai poder falar sobre coisas que ele não teria a quem dizer no Brasil: nem a mídia lhe daria voz e nem muito menos a Justiça o levaria em conta.

Uma pequena amostra disso se viu neste final de semana. Cercada de jornalistas depois de visitar seu marido na cadeia, Andrea Haas, mulher de Pizzolato, produziu uma mistura de desabafo e manifesto ao ver gente da Globo ali presente.

Ela se dirigiu para a reportagem da Globo. Disse que seu marido tem documentos que provam que a Globo ficou com 5 milhões de reais do dinheiro da Visanet que alegadamente foi desviado no Mensalão.

(Pizzolato afirma ter como comprovar a utilização de todo o dinheiro que segundo os acusadores teria sido subtraído pelo PT aos cofres públicos para comprar apoio.)

Mais que isso, ela tocou num assunto que é proibido na mídia brasileira: o escândalo da sonegação da Globo.

A Globo, como revelaram documentos publicados pelo site Cafezinho, trapaceou e sonegou na compra dos direitos da Copa de 2002.

Num desdobramento inacreditável, uma funcionária da Receita foi flagrada tentando destruir a documentação que provava os delitos da Globo. (Gilmar Mendes, e aí não existe surpresa, concedeu habeas corpus para a amiga da Globo.)

Quanto a mídia foge deste assunto sabemos todos. Perguntei ao editor executivo da Folha, Sérgio Dávila, por que a Folha ficou de fora de uma história que o UOL dera.

Sob pressão, a Globo acabou admitindo ao UOL a multa da Receita, e afirmou ter pagado sem jamais exibir o Darf, o recibo fiscal, o que é motivo de chacota até hoje.

Dávila pareceu sensível a minha ponderação jornalística, e no dia seguinte a Folha deu uma nota para o assunto.

Eu imaginava que fosse o começo, mas foi o fim. Nunca mais a Folha voltou ao assunto, e nem o UOL.

A Globo com certeza se movimentou, e quando os Marinhos não querem que se toque em algum assunto, a manada se comporta bem, dado seu descomunal poder de intimidação e sua conhecida falta de escrúpulos em fazer o que tiver que ser feito para obter o silêncio.

O problema – ou solução — é que a Globo não controla a Itália. Não manda na mídia italiana, não manda na justiça italiana.

Se um repórter italiano decidir ouvir Pizzolato em profundidade, ouvirá. Se o que ele tiver a dizer afetar a Globo, azar dela.

Isso pode mudar muita coisa.

A explosão de Andrea mostrou que os Pizzolatos estão com muita vontade de falar.

Caso isso efetivamente ocorra, a Globo não terá como deter o vento, como faz usualmente no Brasil.

Isto é muito bom.