Eike, Marcelo Odebrecht, André Esteves… Doria criou o risco-prisão para seus amigos. Por Felipe Pena

Atualizado em 13 de abril de 2017 às 21:13
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POR FELIPE PENA, jornalista, psicanalista e professor da UFF. Doutor em literatura pela PUC-Rio, com pós-doutorado pela Sorbonne III, é autor de 15 livros, entre eles 3 romances.

 

Quem acompanhou as eleições de 2002 deve lembrar da disparada do “risco-país” (uma entidade metafísica criada por outra, o mercado) cada vez que o então candidato Lula subia nas pesquisas.

Entretanto, logo nos primeiros anos de governo, o presidente Lula tratou de acalmar o tal do mercado ao escolher uma equipe econômica afinada com os empresários brasileiros.

Já o prefeito de São Paulo, João Doria, segue o caminho inverso. Ele é o próprio mercado, a encarnação altiva dos nobres princípios liberais, um “gestor”, como gosta de se autodefinir, embora esteja na política desde a década de 1980, quando foi presidente da Embratur e teve as contas rejeitadas pelo TCU.

João Doria gosta tanto de empresários e banqueiros que criou o prêmio “líderes do Brasil” para homenagear seus amigos. A honraria é concedida pelo grupo Lide, que pertence ao prefeito, a personalidades do topo da pirâmide social brasileiro. E, anualmente, escolhe um vencedor máximo entre seus membros, a quem concede o título de “líder do Brasil.”

Em 2011, o vencedor foi o empresário Eike Batista.

Em 2012, foi empreiteiro Marcelo Odebrecht.

Em 2013, foi o banqueiro André Esteves, do BTG Pactual.

Os três têm em comum, além do prêmio, uma vista quadrada do sol em prisões brasileiras. Eike Batista mora em Bangu 8, Marcelo Odebrecht está numa prisão federal em Curitiba e André Esteves já foi libertado, mas passou um bom tempo encarcerado.

Ou seja, involuntariamente ou não, o prefeito João Doria acabou criando o “risco-prisão” para os vencedores do prêmio criado por ele.

Como são conhecedores do mercado e do “risco-país”, é muito provável que os amigos do prefeito também passem a considerar o “risco-prisão” quando forem os próximos homenageados. Já deve ter muito pescoço se encolhendo no colarinho branco para tentar ser esquecido pelo prefeito.

Afinal, os números não mentem: o “risco-prisão” aumenta muito quando o investigado é vencedor do prêmio “líder do Brasil”. A curva é constante, os gráficos são estáveis e a tendência é o cárcere.

Ah, claro, já ia me esquecendo:

Em 2016, o vencedor foi Michel Temer.