Apoie o DCM

1. Brasil está mais rico, mas tem desafios na inclusão social, diz estudo

[titulo id=1]

[saibamais leia]

BBC Brasil

[/saibamais]

inclusãoUm ranking de países latino-americanos indicou que o Brasil de hoje é uma nação mais rica, mas que ainda fica atrás dos líderes regionais quanto o assunto é a inclusão social.

A análise de 16 países, feita por um grupo de estudos com sede em Nova York, olhou para aspectos que vão além de componentes econômicos como, por exemplo, a redução da pobreza, geralmente mencionada como indicador de maior inclusão.

Foram avaliadas algumas áreas que, acreditam os autores do indicador, explicam os protestos recentes no país e “criam critérios tangíveis” para balizar as políticas públicas.

A segunda edição do Índice de Inclusão Social pesou 21 variáveis de avanço econômico, inclusão financeira, direitos políticos e civis, acesso a educação e moradia, e avanço nas questão de gênero, raça e orientação sexual, para citar algumas facetas.

As informações foram coletadas a partir de fontes como a ONU, organizações multilaterais e pesquisas de opinião regionais.

“Nosso índice reflete o consenso emergente de que a inclusão social compreende um ambiente institucional, social, político e de atitudes que vai além da economia e da redução da pobreza e desigualdade”, afirmaram os autores.

“No seu sentido mais básico, a inclusão social é uma questão de oportunidade: representa a combinação de fatores necessários para que um indivíduo desfrute de uma vida segura e produtiva como membro totalmente integrado à sociedade – independentemente de raça, etnia, gênero ou orientação social.”

O Brasil liderou a América Latina em percentagem do PIB investido em programas sociais, por exemplo, uma medida importante para reverter desigualdades históricas de raça e gênero – na opinião dos analistas.

O país também foi considerado em melhor situação que outros vizinhos na existência de leis para proteção de lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros (LGBT).

Mas ficou nos últimos lugares do ranking em termos de participação da sociedade civil na vida pública e nos critérios que apontam a satisfação dos cidadãos quanto à sua capacidade de influenciar os destinos da sociedade. Os dados foram coletados antes dos protestos do mês passado.

A crença dos brasileiros na reação do seu governo piorou quando foi feito o corte por raça e gênero.

“O Brasil fica para trás na região em termos da percepção pública sobre a capacidade de resposta do governo aos problemas da nação. E é muito difícil mudar isso (a percepção) do dia para a noite”, disse à BBC Brasil Christopher Sabatini, diretor de Políticas da organização que criou o índice, o Conselho das Américas.

“Existe uma lacuna de tempo entre fazer isso e as percepções das pessoas mudarem.”

Sabatini notou que a desigualdade econômica no Brasil diminuiu em todo o espectro da sociedade, mas a disparidade de acesso a serviços como saúde e educação de acordo com gênero, raça e etnia continua sendo um desafio persistente.

“O problema é que a ineficiência governamental é algo muito difícil de combater. O governo até agora tem se concentrado em macrorreformas em vez de trabalhar mais especificamente nas necessidades básicas como as que o índice aborda”, afirma o especialista.

“Não basta simplesmente direcionar os recursos do petróleo para a educação, por exemplo. O que estamos mostrando é uma diferença real de acesso. Botar mais dinheiro em um sistema que já é desigual – seja o sistema educacional, de moradia, de Justiça ou o que for – não vai necessariamente resolver o problema.”

O indicador da inclusão social é reconhecidamente ainda um trabalho em construção, o que impede a comparação com a edição anterior do ranking – quando foram avaliados menos países e utilizados menos critérios.

Nesta edição, Venezuela e Argentina ficaram de fora. O Brasil ficou em 5º lugar, atrás de Uruguai, Chile, EUA e Costa Rica. Mas a pontuação brasileira ficou bem abaixo da dos dois primeiros, indicando que pode haver outros sinais da precariedade da inclusão social brasileira que não foram captadas neste estudo.

“Uma coisa que não captamos ainda foram as diferenças geográficas em um país imenso como o Brasil. O acesso a bens e serviços é diferente conforme raça, gênero, orientação sexual… e também localização geográfica. Isto inclui serviços do governo e empregos formais”, disse Sabatini.

Durante a discussão em Washington, especialistas de várias áreas ligadas ao desenvolvimento humano fizeram sugestões para que a pesquisa passe a incorporar aspectos mantidos fora da consulta, como inclusão digital, segregação espacial, acesso a mais serviços, como transporte e justiça, e aspirações da juventude.

Durante o evento, os analistas fizeram uma comparação entre inclusão social e violência, indicando que os países menos inclusivos tendem a registrar mais altos níveis de violência.

O especialista que apresentou essas conclusões, Jason Marczak, teorizou que as sociedades mais inclusivas põem os seus atores em um “mesmo patamar” no debate público, esvaziando as justificativas para que se apele à violência.

[final]