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Cantora lírica brasileira faz sucesso em Berlim

Não estava nos primeiros planos de Adriane Queiroz tornar-se uma cantora de ópera mundialmente conhecida. Nascida em Belém do Pará e vivendo no bairro de Terra Firme, na periferia da cidade, ela já estava casada e com um filho pequeno quando começou a estudar canto na Fundação Carlos Gomes em 1993.

Há 12 anos em Berlim, Adriane tem um currículo invejável mesmo para cantoras líricas que começaram a estudar já na adolescência.

Dirigida na Staatsoper pela estrela entre os regentes, Daniel Baremboim, a cantora enfrentou papeis desafiadores, como a Susanna das Bodas de Fígaro, a difícil Turandot de Puccini, e o solo da Oitava Sinfonia de Mahler.

Ela exerceu por dez anos a profissão de professora primária, trabalhando com crianças de rua em bairros pobres da capital paraense e também na Febesp, a Fundação do Bem-Estar Social do Pará, quando percebeu que a música e o canto tinham um papel fundamental na sua didática.
“Foi com as crianças que meu interesse por música se fortaleceu”, disse a cantora à DW no bairro de Prenzlauer Berg, em Berlim, onde vive.

Mesmo já próxima de se formar pelo Conservatório da Fundação, Adriane pensava em seguir seu trabalho como pedagoga se nada ocorresse após a formatura. Foi no centenário da morte de Carlos Gomes que a reviravolta se deu.

O novo diretor na Fundação, o pianista Paulo José Campo de Melo, percebeu o talento da paraense durante os concertos comemorativos e decidiu que seu futuro estaria na Europa, onde ele mesmo passara a última década.

Adriane Queiroz partiu para Viena em 1997 para prestar concurso tanto no Conservatório como na Universidade.

Ficaram impressionados com seu talento. A brasileira foi aceita em ambas as instituições, apesar de considerarem que ela estava começando tarde para padrões europeus.

Na Universidade de Viena, onde estudaria as técnicas da “Lied” e do oratório, ela impressionou e convenceu a bancada julgadora ao cantar, durante o teste, uma ária do Deutsches Requiem de Brahms, tradicionalmente estudada na universidade apenas no último ano do curso.

Sempre aberta a voltar à vida de professora se não fosse possível seguir a carreira, Adriane fez audições ao fim do curso e foi aceita na Volksoper de Viena.

A diretora da Staatsoper de Berlim, que assistia às audições, fez então a oferta irrecusável: mudar-se para Berlim, onde teria a possibilidade de ter um papel central na maior casa de óperas da Alemanha.

Para Adriane, muita coisa mudou na última década, tanto no Brasil como na Alemanha.
No Brasil, nunca houve a tradição da temporada de ópera, tudo girava em torno de eventos específicos e esporádicos, o que tornava impossível uma carreira sólida no país. Hoje, aos poucos, mesmo que não constituam uma temporada, os eventos começam a se multiplicar no país.

“No passado, a ópera era vista no Brasil apenas como evento, não havia uma temporada e era mais difícil para um solista viver somente disso. Hoje, pelo menos em São Paulo, está começando a haver uma saison. No Rio de Janeiro, há um descaso com o programa. O Teatro Municipal carioca é muito mal utilizado.”

Ela tem várias apresentações marcadas para a temporada europeia. O público brasileiro poderá ouvir a cantora em Belém, onde ela participa da apresentação de Mefistofele, de Arrigo Boito, em agosto.

Saiba Maia: dw