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Coronel Paulo Malhães, que admitiu torturas na ditadura, é encontrado morto no RJ

O coronel da reserva Paulo Malhães foi encontrado morto na manhã desta sexta-feira dentro de sua casa, num sítio do bairro Marapicu, zona rural de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. O militar da reserva teve atuação de destaque na repressão política durante a ditadura militar. No mês passado, em depoimento à Comissão Nacional da Verdade, ele assumiu ter participado de torturas, mortes e desaparecimentos de presos políticos.

Segundo a filha de Malhães, Carla, três pessoas entraram na casa do coronel reformado na tarde de quinta-feira, prenderam a mulher dele num aposento e mataram ele por sufocamento. O grupo levou todas as armas que ele tinha em casa.

Segundo investigadores da Divisão de Homicídios da Baixada Fluminense, que acabam de realizar uma perícia no local, Malhães ficou em poder dos bandidos de 13h às 22h, segundo o relato de testemunha.

Policiais apreenderam na casa um rifle e uma garrucha antigas e colheram impressões digitais, que serão analisadas. Nadine Borges, integrante da Comissão Estadual da Verdade e responsável por tomar o depoimento de Malhães, cobrou uma investigação célere. Segundo ela, este não pode ser tratado como crime comum.

Malhães teve presença destacada na Casa da Morte, o nome pelo qual ficou conhecido um centro clandestino de tortura e assassinatos criado pelos órgãos de repressão da ditadura militar brasileira (1964-1985) numa casa na cidade de Petrópolis, estado do Rio de Janeiro.

Na casa, diversos presos políticos capturados foram torturados e assassinados por militares durante a década de 70, fato que só se tornou conhecido devido às denúncias da única sobrevivente, a militante Inês Etienne Romeu, cativa, estuprada e torturada por mais de três meses no local, antes de ser jogada numa rua do subúrbio do Rio quase morta, mas sobrevivendo para contar a história.

Ela foi montada após ordem do então ministro do Exército Orlando Geisel de que todos os presos políticos banidos anteriormente do país fossem executados se capturados novamente em território brasileiro.

Em junho de 2012, Malhães (“Dr. Diablo”) declarou que o lugar, chamado de “casa de conveniência” no jargão dos torturadores, tinha sido especialmente preparado por ele para receber os presos políticos capturados e basicamente servia para transformar guerrilheiros em infiltrados em suas próprias organizações.

Malhães, um ex-integrante do Movimento Anticomunista (MAC), pessoalmente organizava as sentinelas do lugar, a rotina da casa e até as festas dadas para disfarçar, já que ele se passava por um fazendeiro que ia a Petrópolis de vez em quando. Cada oficial trazia seu próprio preso, com sua própria equipe de sargentos, cabos e soldados, para “trabalhá-lo” individualmente.

Segundo Malhães, o único erro cometido pelos torturadores foi a libertação de Inês Etienne, que fingiu ter aceito se passar por infiltrada em troca da liberdade após três meses de tortura, e foi quem afinal, em 1979, denunciou a existência da Casa da Morte.

Saiba Mais: O Globo
Wikipedia

Depoimento de Paulo Malhães a Comissão da Verdade: DCM