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Eduardo Cunha desperta ‘suspeitas de corrupção desde sua atuação no governo Collor’

Em 2009, a revista Época traçou um perfil revelador do então ‘noviço’ Eduardo Cunha, hoje candidato à presidência da Câmara. Leia abaixo:

Ele é um noviço entre os 513 deputados federais – exerce o segundo mandato. Mas está longe de ser inexperiente. O deputado Eduardo Cunha, do PMDB do Rio de Janeiro, é um fenômeno político. Ironicamente chamado de “alpinista do Congresso” por colegas impressionados com sua desenvoltura, em apenas seis anos ele conseguiu vaga cativa na ala dos caciques peemedebistas, com direito a tudo o que a política do toma-lá-dá-cá costuma proporcionar. De nomeações de apadrinhados para manusear verbas na máquina pública federal ao controle de comissões que ditam o ritmo do Congresso.

O sucesso de Cunha chama a atenção por um detalhe: seu currículo, manchado por suspeitas de corrupção desde sua atuação no governo Collor e no da família Garotinho, no Rio, não atrapalha suas pretensões. Ele é um personagem cuja história serve à perfeição para ilustrar a crise de imagem que atinge o Congresso. “Esse cidadão é fruto do Congresso medíocre que está aí, dominado pelo baixo clero, em que a maioria dos parlamentares só pensa em defender seus próprios interesses”, diz o cientista político Octaciano Nogueira, da Universidade de Brasília. O próprio Eduardo Cunha não é tão crítico em relação ao Congresso. “Já vi o Congresso mais débil do que está hoje. E se o Congresso está ruim, é porque a sociedade está ruim”, diz ele.

O Congresso pode estar em baixa, mas o poder de Eduardo Cunha está em alta. Recentemente, ele foi um dos artífices da eleição do presidente do PMDB, Michel Temer (SP), para a presidência da Câmara. Cunha lidera e manobra uma bancada particular de, pelo menos, 20 integrantes, que inclui deputados de partidos menores, como o nanico PSC. “Não tenho deputados leais a mim. Faço parte de uma bancada, a do PMDB do Rio, e decidimos tudo juntos”, afirma. Após ajudar na vitória de Temer, Cunha obteve uma compensação generosa. Conseguiu indicar um de seus apaniguados, o deputado Bernardo Ariston (PMDB-RJ), para a presidência da Comissão de Minas e Energia da Câmara, encarregada de analisar projetos relacionados à exploração de petróleo e ao setor elétrico. Foi uma conquista importante, numa área cara a seus interesses.

Aos 50 anos, bom de conversa, jeitão de acadêmico americano, Eduardo Cosentino da Cunha é casado com a jornalista Cláudia Cruz, estrela da TV nos anos 1990. Tem quatro filhos. É formado em economia. Não exerce a profissão, mas mantém o gosto pelos números. Em seu escritório político no centro do Rio, sobre a mesa de trabalho, mantém um computador ligado a indicadores do mercado financeiro. A afinidade com cotações de moedas estrangeiras e códigos de ações vem da profissão original. Como economista, trabalhou na Xerox e na auditoria Arthur Andersen. Até que veio a política. E com ela, os escândalos.

A lista de suspeitas é extensa. No ano 2000, a Receita Federal detectou incompatibilidade entre sua movimentação financeira e o montante declarado ao Imposto de Renda. Em 2003, ele foi acusado de achacar empresários do setor de combustíveis. Segundo a denúncia, levada ao então presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PCdoB-SP), Cunha e outros dois deputados estariam usando a Comissão de Fiscalização e Controle para apresentar requerimentos de convocação de empresários, especialmente de multinacionais de petróleo. Em troca da desistência da convocação, os empresários tinham de pagar pedágio, dizia a denúncia. O então líder do PT, Nelson Pellegrino (BA), até hoje companheiro de Cunha na base governista, chegou a declarar que havia uma “quadrilha” instalada na comissão. O episódio não deu em nada.

Mais recentemente, Eduardo Cunha foi acusado também de envolvimento com o traficante colombiano Juan Carlos Abadía. No plenário da Assembleia Legislativa do Rio, a deputada estadual Cidinha Campos, do PDT, afirmou que Cunha vendera para Abadía uma casa em Angra dos Reis no valor de US$ 800 mil. A casa teria sido recomprada, depois, por US$ 100 mil a menos. O negócio teria sido feito por meio de laranjas, segundo Cidinha. Eduardo Cunha nega as acusações.