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Excêntrico e falastrão: quem é Boris Johnson, provável substituto de Cameron como premiê britânico

Do DW:

Quando, em fevereiro último, Boris Johnson anunciou que apoiaria a campanha pela saída do Reino Unido da União Europeia (UE), o assim chamado Brexit, o debate no país logo mudou de tom.

Ao se posicionar na linha de frente dos que querem a saída, o então prefeito de Londres, uma pessoa apreciada tanto pela opinião pública pelos colegas do Partido Conservador, conferiu à campanha o peso do establishment. Até então, quem dava o tom eram figuras marginais, como Nigel Farage, do Ukip, e George Galloway, do Partido do Respeito.

Consta que, durante semanas, o primeiro-ministro David Cameron tentou convencer Johnson a lutar ao lado do governo pela permanência na UE. Pesquisas de opinião mostravam que, caso Johnson se colocasse do lado pró-saída, haveria consequências sensíveis. E foi o que aconteceu.

“Ao contrário da maioria dos políticos, ele fala em termos claros e chega até pessoas de todas as convicções políticas”, afirma Adam Bienkov, vice-redator chefe do portal de notícias politics.co.uk. “Ele não é um político típico, ele diz coisas que os outros não querem dizer. De fato, às vezes o tiro sai pela culatra, mas, seja como for, não dá para esquecê-lo. As pessoas o conhecem, e ele é o político mais querido do Reino Unido.”

Muitos afirmam que a decisão de Johnson de liderar a ala pró-Brexit foi uma jogada oportunista, na qual ele não foi movido por convicções verdadeiras, mas pretendendo melhorar as próprias chances de se tornar líder do Partido Conservador.

(…) Johnson é o mais provável candidato à sucessão de David Cameron no cargo de primeiro ministro. Mas quem é esse político excêntrico, e qual é o segredo de sua popularidade?

Antes de entrar para a política, Boris Johnson já atravessara uma bem-sucedida carreira jornalística. Ele escrevia para o The Times, o Daily Telegraph e, em 1999, passou a editar o magazine de notícias conservador The Spectator. Dois anos mais tarde retirou-se dessa atividade para virar parlamentar.

Seguiu, porém, trabalhando como colunista de jornais, e durante o mandato como prefeito de Londres, de 2008 a 2016, ganhava até bem mais como jornalista do que como político. Em maio de 2015, ele retornou como deputado à House of Commons, a câmara baixa do parlamento.

Johnson alcançou notoriedade com observações ousadas e humor anticonvencional. Para muitos, um bem-vindo contraste ao basicamente monótono cotidiano político em Westminster.

“Se os Tories [o Partido Conservador] vencerem, a tua mulher vai ganhar seios maiores e aumentam as tuas chances de ser dono de uma BMW M3”, prometeu em 2005, na campanha para a câmara baixa. O vídeo em que Johnson fica preso numa tirolesa (zip line) de parque de diversões durante os Jogos Olímpicos de 2012, pendendo a seis metros de altura sobre a multidão, tornou-se uma cena inesquecível, já assistida milhões de vezes na internet.

“Ele é simplesmente carismático, e isso contagia”, diz o comentarista político James Bloodworth. “No Partido Conservador sabe-se muito bem disso. Boris tem o perfil do vencedor, mas também domina muito bem o instrumentário ideológico da legenda – uma combinação rara.”

Quando, em 2008, Johnson bateu o candidato trabalhista Ken Livingstone nas eleições para a prefeitura londrina, essa foi a maior vitória eleitora conservadora desde 1997, quando a figura de proa do Labour, Tony Blair, assumiu triunfalmente, em Downing Street 10, o comando do governo britânico. Em 2012, Johnson voltou a suplantar Livingstone, consolidando sua fama de vencedor.

Apesar de suas aparições públicas muitas vezes estabanadas, da cabeleira desgrenhada e da tendência a comentários inconvenientes, há muito se especula se Johnson não pretenderia tomar o lugar de Cameron – como ele, cria das instituições elitistas de ensino de Eton e Oxford.

Por outro lado, muitos questionam a real capacidade de Johnson para governar. Durante sua prefeitura, por exemplo, os preços do transporte urbano londrino dispararam, e houve numerosos e longos conflitos salariais com os sindicatos.

“Analisando seus dois mandatos, é preciso dizer que ele não alcançou grandes coisas”, afirma Bienkov. “Na eleição mais recente, ele nem prometeu muito, seu programa era bem parco. Nos últimos anos houve uma espécie de paralisia na municipalidade. Dá para dizer que ele estava mais interessado em outras coisas – escrever livros, por exemplo.”

Quando Johnson renunciou como prefeito, quase todos os jornais publicaram carinhosas coletâneas de seus melhores ditos. Embora alguns de seus deslizes sejam extremamente apreciados, a rigor eles não combinam com o que se espera de um primeiro-ministro. Sobre a cidade de Portsmouth, no sul do país, ele comentou haver lá “drogas demais, obesidade demais, falta de sucesso demais e deputados trabalhistas demais”.

“Acho que ele não seria especialmente bom como premiê”, avalia Bloodworth. “Ele comete gafes demais. Quando se é chefe de partido, não é tão fácil avançar à base de comentários humorísticos.”