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Janaína diz que não estava possuída e nem bêbada

Do globo:

Os cabelos estavam presos e a camisa amarela alinhada, até que o discurso da jurista Janaína Paschoal começasse na noite de segunda-feira, na Faculdade de Direito da USP. A uma plateia de alunos que a chamavam de “Janalinda” e disputavam selfies com ela, a advogada, de 41 anos, defendeu exaltada a saída da presidente Dilma Rousseff. Girando no ar uma bandeira do Brasil, disse que o país não é uma “República de Cobras”, em referência ao discurso em que o ex-presidente Lula se comparou a uma jararaca. Os cabelos voavam, enquanto ela dava socos no ar, pontuando seu inflamado discurso.

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O discurso de Janaína foi convertido em piada e memes de internet. Mensagens que ironizavam sua fala levaram ontem o nome da advogada aos Trending Topics nacionais do Twitter. Parte do humor se concentrou na comparação da descabelada advogada com a protagonista do filme americano “O Exorcista”.

“Diz a lenda que se você puser a fala de Janaína Paschoal de trás para a frente, ouve o discurso de posse de Michel Temer”, dizia a mensagem colada a uma foto de Janaína compartilhada pelas redes sociais. Uma montagem também a colocou como vocalista do clássico do metal “The number of the beast”, da banda Iron Maiden.

As piadas e agressões foram postadas inclusive como comentários em mensagens publicadas pela própria advogada em sua página no Facebook.

O site de “notícias falsas” Sensacionalista publicou que Janaína era a “menina pastora”, referência a uma pregadora que ganhou fama em 2007.

— Não sou pastora, nem estava possuída, nem tinha bebido, também nunca usei droga. Só sou uma brasileira cansada de tanta hipocrisia. Nem sabia que essa criança existia — disse Janaína ao GLOBO ontem à noite.

Em sua página no Facebook, o escritor Fernando Morais, defensor do governo, disse que Janaína “está urgentemente precisada de um exorcista e um vidro de xampu. Não necessariamente nessa ordem”. Petistas sugeriram que, dado o tom político da advogada, Janaína será candidata a deputada federal em 2018.

— Esses petistas vão quebrar a cara, ela é forte, não se encanta com holofotes. Não é e nem vai ser uma personalidade pública. É apenas uma mulher movida por causas — disse o preocupado pai de Janaína, Ricardo Paschoal.

No fim do ano passado, Janaína, a mais velha dos quatro filhos de Paschoal, convocou uma reunião familiar para dizer que estava disposta a encabeçar o pedido de impedimento da presidente.

— Fomos contra, temos medo de retaliação. Mas, depois, ela me disse que era mesmo o que queria. O que posso fazer? Ela tem 41 anos — disse Paschoal, frisando que a advogada toma cuidado para não descer do carro quando leva os filhos de 12 e 8 anos à escola; a família teme que as crianças sejam alvo de agressão.

Com duas irmãs, Janaína comanda um bem-sucedido escritório de Direito Penal econômico nos Jardins, área nobre de São Paulo. Ela se recusa a atender estupradores e traficantes. No site do escritório, define sua atuação: “sua aflição será nossa aflição”.

— É a melhor advogada do Brasil, me defende há 15 anos e nunca perdemos. Quando entra numa história, é para ganhar — diz o socialite Chiquinho Scarpa.

Na terça-feira, porém, durante julgamento em Brasília, Janaína não salvou seu cliente, o procurador da República Douglas Kirchner, da demissão pelo Conselho Nacional do Ministério Público. Kirchner é acusado de espancar a ex-mulher.

Além de advogar, Janaína é professora de Direito Penal na USP, faculdade onde obteve o doutorado, sob orientação do jurista tucano Miguel Reale Júnior, que também assina o pedido de impeachment.

Na USP, quando fazia a graduação, ajudou a organizar atos pelo impeachment do então presidente Fernando Collor, em 1992: pintou o rosto para sair às ruas. Como professora, é descrita como “boa e assídua, acima da média”.

— Ela nunca expressou nenhuma preferência política nem citava Deus nas aulas — diz uma ex-aluna.

Janaína, que afirma ser espírita, têm atribuído a forças superiores o fato de ter conhecido Bicudo. Em seu discurso, afirmou que “Deus manda uma legião para cortar as asas da cobra”, em referência a Lula. Ela submeteu o pedido de impeachment a um padre amigo da família.

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