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Jean Wyllys: “Cunha está leiloando o impeachment”

Do Facebook de Jean Wyllys:

 

De acordo com as informações dos principais jornais — que confirmam o que nós, deputados e deputadas, ouvimos nos bastidores da House of Cunha —, o impeachment da presidenta Dilma está sendo leiloado pelo presidente da Câmara dos Deputados. E há dois oferentes: o governo e a oposição de direita. Em troca de impunidade (na hipótese de máxima, se mantendo como presidente da Câmara, e na de mínima, deixando a presidência, mas mantendo seu mandato de deputado protegido do pedido de cassação apresentado pelo PSOL no Conselho de Ética), Cunha oferece a uns o arquivamento dos processos de impeachment e aos outros o seu rápido andamento para expulsar a presidenta Dilma Rousseff do Palácio do Planalto.

Ele tem essa única carta nas mãos e está disposto a jogar para um lado ou para o outro, em defesa de um único interesse: o próprio.

Ele sabe que o leilão do impeachment é sua única possibilidade de salvação porque, se deixar o cargo — ou, pior, se perder o mandato de deputado —, perderá também a im(p)unidade e corre o risco de acabar na cadeia, seja pelas investigações da operação “lava-jato”, seja pelas contas milionárias descobertas pela justiça da Suíça, cujo origem não pode explicar. Cunha é expert em sobrevivência: chegou ao poder junto a PC Farias e sobreviveu à queda do seu mentor e até do presidente Collor de Melo, depois foi trabalhar com Garotinho no Rio de Janeiro e se salvou de várias denúncias de corrupção. E agora, trás um longo período no anonimato como eminência parda do PMDB na Câmara dos Deputados, tomou por assalto a presidência da casa apoiado pelo baixo clero e as bancadas do boi, da Bíblia e da bala para, desde esse espaço de poder, transformar-se em Chantagista Geral da República e líder do reacionarismo mais vulgar, da agenda de retrocesso civilizatório mais anacrônica contra os direitos humanos e as minorias e do esgoto da política do toma-lá-dá-cá, do enriquecimento e da imoralidade pública. E tudo isso em nome da “família”, da “fé” e dos “bons costumes”, perfumado por salmos e citações de passagens bíblicas.

O mais grave, porém, não é Cunha.

O mais grave é que o partido que está no poder há mais de 12 anos — e que já foi, alguma vez, o maior partido de massas da América Latina — e o principal partido da oposição, que já governou o país por dois mandatos consecutivos e participou do segundo turno das últimas quatro eleições presidenciais, sejam incapazes de dar um basta à chantagem de um sujeito tão menor, que jamais poderia ter chegado a ocupar a cabeça de um dos poderes da República e continuem ajoelhados, negociando com o sr. Underwood como se Deus fosse. O mais grave é que o governo e a oposição de direita participem do leilão da República e continuem, dia após dia, dando lances mais caros para a democracia, lances que cairão na conta de todos os brasileiros e as brasileiras, em troca de impeachment sim ou impeachment não, como se a democracia que tanto nos custou construir valesse tão pouco.

Eu faço um apelo aos parlamentares honestos e às parlamentares honestas de todos os partidos, às e aos militantes que ainda existem nas diferentes bancadas e, em particular, a aqueles que têm uma história de luta do lado das causas populares, para que juntos acabemos com o leilão da democracia brasileira e digamos, de uma vez: fora, Cunha!