“Puxa a fila e fala sobre isso”, dizia Doria a empresários em jantar com Temer
Do Valor:
O jantar do presidente Michel Temer com representantes de empresas e do setor financeiro na noite de segunda-feira, em São Paulo, chamou a atenção pela baixa adesão de empresários e banqueiros nacionais de peso. Foi destaque, por outro lado, a presença de executivos de multinacionais, ansiosos por saber se há clima para programar investimentos. Convidados ouvidos pelo Valor disseram que, para a maioria, saber das perspectivas de continuidade das reformas foi mais importante do que eventuais informações sobre as denúncias que envolvem Temer, um assunto no qual ninguém tocou naquela noite. “Temer lançou a ideia de que precisamos nos unir para proteger o Brasil, num tom de que é ‘ruim conosco, mas pior sem'”, disse um dos convidados.
O encontro, realizado numa sala reservada do Hotel Hyatt, foi uma espécie de reunião mais informal e íntima na véspera do Fórum de Investimentos Brasil 2017, organizado pela Apex e ministérios do Planejamento e Relações Exteriores em parceria com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), do qual grande parte dos convidados para o jantar também participou. O caráter do evento, de atração de investimentos estrangeiros, explica a predominância de executivos de multinacionais como Shell, Anglo American, Syngenta, Citibank, Credit Suisse e Bayer. Muitos estavam confirmados desde março por serem palestrantes no fórum.
Ao jantar compareceram três empresários nacionais: Rubens Ometto, da Cosan, Pedro Passos, da Natura, e Pedro Faria, da BRF. O Bradesco foi representado por um de seus vice-presidentes, Marcelo Noronha. “Não havia condições de participar num momento político como o atual”, disse um executivo que declinou do convite.
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As denúncias contra Temer foram esquecidas durante o encontro de quase duas horas. Tampouco falou-se sobre a recente troca de comando no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Temer mostrou-se interessado em ouvir os empresários após seu discurso de cerca de 15 minutos. O prefeito de São Paulo, João Doria, decidiu, então, assumir, o papel de “mestre de cerimônias” e provocar os empresários a falar. “Puxa a fila e fala sobre isso”, disse Doria a um executivo que tentava elogiar o trabalho da equipe econômica.
Os olhos dos ministros brilharam quando um dos convidados começou a falar sobre o excesso de liquidez em regiões como Europa, Japão e Estados Unidos. Outro concordou que, diante desse contexto mundial, no qual “o dinheiro tem que ir para algum lugar”, o Brasil seria um país para se “olhar com muita atenção”. Desde que, voltaram a concordar todos, a agenda das reformas seja preservada.
O grupo aproveitou a oportunidade de estar numa sala pequena, que propiciava um diálogo mais próximo não só com Temer, mas também com ministros, como Henrique Meirelles, da Fazenda, e os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia, e do Senado, Eunício Oliveira, além do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin. Chamou a atenção dos presentes o fato de mais da metade do flanco político do jantar ser composta por tucanos, no que pareceu um aceno de que o PSDB não desembarca tão cedo da base do governo.
“Eu me surpreendi positivamente. Tivemos acesso total aos ministros”, comentou o presidente de uma empresa. “O jantar começou morno mas terminou em alta”, disse. Três executivos avaliam que a probabilidade de Michel Temer se manter no cargo cresceu, embora ainda continue baixa. “Na semana passada, a chance de permanência de Temer na Presidência oscilava entre 5% e 10%. Hoje, está entre 30% e 40%”, disse um executivo que já havia confirmado sua participação no jantar há bastante tempo e considerou “agressiva” a decisão dos que faltaram.
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Houve também empresários que elogiaram a melhoria no diálogo com o Palácio do Planalto e apontaram um crescente interesse de empresários estrangeiros no país como sinal de que as reformas poderiam colocar o Brasil entre as prioridades desses investidores.
“No fim, o mercado é pragmático. Se o governo conseguir aprovar a reforma trabalhista, ninguém mais tira ele da Presidência. Porque tudo o que se quer é que as reformas sejam aprovadas”, disse o presidente de uma empresa estrangeira.
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