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Quem é Alexis Tsipras, o líder grego que tem uma foto de Che no gabinete

Da Visão e do Globo:

Longe vão os tempos em que Alexis Tsipras era apontado como um “perigoso bolchevista”. O líder da oposição grega e da Coligação de Esquerda Radical (vulgo Syriza) continua a ter o retrato de Che Guevara no seu gabinete e não seria de estranhar que o levasse para a sede do Governo, caso se torne no próximo primeiro-ministro da Grécia. Uma aparente inevitabilidade histórica, como demonstram todas as sondagens sobre as eleições legislativas antecipadas de 25 de janeiro.

O antigo engenheiro civil é um homem de convicções e tem uma tal admiração pelo herói da revolução cubana que um dos nomes do seu filho mais novo é precisamente Ernesto. O passado comunista de Tsipras, a sua agenda política e a hipótese da Europa ter um Governo de extrema-esquerda é algo que ainda parece incomodar muita gente. A começar pelos principais credores da Grécia.

O país deve mais de 300 bilhões de euros e o Banco Central Europeu (BCE), a Comissão Europeia e o FMI estão preocupados com um eventual calote de um futuro governo grego sob Tsipras. Deve-se acrescentar entre os preocupados a Alemanha, principal crítica das intenções de Tsipras suspender os programas de ajustamento impostos nos últimos cinco anos.

Nascido em 1974, ele entrou na adolescência para a ala jovem do Partido Comunista, o último bastião do stalinismo na Europa Ocidental. O colapso da União Soviética desorganizou o partido e Tsipras saiu para se unir ao Synaspismos, a “Coalizão de Movimentos e Ecologia Esquerda”, o maior partido dentro do Syriza — bloco formado em 2004.

No ano seguinte Tsipras concorreu como candidato do partido para prefeito de Atenas, e sua forte presença, especialmente com os eleitores jovens, impulsionoua legenda para o seu primeiro sucesso nacional nas eleições de 2007. Em 2008, foi eleito presidente do partido.

Se sua formação política está na tradição marxista, ele e seu partido (como tantos outros na Europa) tiveram de lutar para forjar uma identidade pós-comunista. Nesse processo, verdes, feministas e outros liberais sociais precisaram encontrar uma agenda comum. A legenda também disse ter ligações com anarquistas, cujos protestos espetacularmente destrutivos foram os primeiros sinais da grave crise grega no final de 2008.

Ao contrário da crença generalizada, Tsipras não é a favor da Grécia sair do euro. Sua retórica, ao contrário, foi ficando cada vez mais pró-Europa nos últimos anos.

Ele também defende medidas que soam mais sinceras vindas dele do que dos partidos que presidiram o país durante seus os longos anos de corrupção e declínio: supressão de dezenas de benefícios fiscais; aumento das receitas através de impostos sobre donos de embarcações e a busca por um acordo especial com a Suíça para tributar as contas de gregos ricos.

“Temos de parar de tributar a pobreza e começar a taxar os ricos e a evasão fiscal”, diz ele.

Em 2012, durante visita à Alemanha, Tsipras pediu que Berlim pare de tratar a Grécia “como um protetorado”.

Parte essencial de seu discurso, que ao mesmo tempo critica a União Europeia e defende a permanência da Grécia no bloco, está no pedido de solidariedade que faz. Essencialmente, Tsipras diz que UE não pode ficar parada e deixar os mercados financeiros brutalizarem o país como se fosse uma colônia a ser desprezada.