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Reportagem da Istoé dizendo que PMDB vai “recolocar o país nos trilhos” vira piada na internet

 

A reportagem de capa da Istoé desta semana virou motivo de piada na internet. Nela, a revista faz uma defesa de Temer e do PMDB.

Dias depois da edição chegar às bancas, a Operação Catilinárias da PF atingiu o fígado do partido. D0s caciques, faltou apenas Temer. Além de Cunha, foram alvos de mandados de busca e apreensão dois ministros peemedebistas, um ex-ministro e outros políticos.

Cunha, aliás, é citado uma única vez, en passant, na reportagem chamada “O desembarque”. Nas redes sociais, algumas pessoas disseram suspeitar que a matéria foi escrita “por um pau mandado do presidente da Câmara, de tão elogiosa”.

Alguns trechos:

O5 de outubro de 1988 foi um dia histórico para o País. Em Brasília, caíam as primeiras chuvas finas, depois de uma estiagem de quase três meses. As folhas pálidas dos arbustos retorcidos do cerrado começavam a ganhar vida e cor, quando Ulysses Guimarães, em reunião do Congresso Nacional convocada especialmente para a promulgação da nova Constituição, ergueu o volume com os originais da Carta Magna e pronunciou as seguintes palavras: “A nação quer mudar. A nação deve mudar. A nação vai mudar !”. O PMDB consumava, ali, seu projeto de consolidação da democracia em nosso País. Entregava ao Brasil a institucionalização do Estado Democrático de Direito.

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Hoje, um novo desafio se impõe ao PMDB. Como dizia o ex-presidente da República Jânio Quadros, “o partido das antessalas palacianas” trabalha para retomar o protagonismo de outrora. Quando mais uma vez, para ficar no discurso eternizado por Ulysses, “a nação quer mudar”, o PMDB mostrou, nos últimos dias, disposição e condição política para liderar o País e resgatar em sua essência o velho partido das grandes causas nacionais.

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Quem se apresenta como timoneiro da retomada peemedebista é o vice-presidente Michel Temer. Na segunda-feira 7, ele empreendeu o mais contundente gesto em direção ao rompimento com a presidente Dilma Rousseff. Dizendo-se cansado de desempenhar o papel de figura decorativa da República, Temer enviou uma carta a presidente em que a acusou de não trata-lo com respeito, de desprezá-lo com assiduidade e de não confiar nele nem no seu partido. No futuro, a carta poderá ficar na história como o marco da inflexão do PMDB. E do próprio vice-presidente. 

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Para entender melhor o significado do movimento político de Temer, e do quão difícil deve ter sido para ele fazê-lo, primeiro é preciso conhecer um pouco do seu perfil. Ao longo de sua trajetória, o peemedebista notabilizou-se por ser um político pouco afeito a arroubos e a indisposições. Discreto e polido, sempre atuou melhor nos bastidores do que em meio aos holofotes. Em 2013, num lance de rara ousadia pública, traços de sua personalidade foram expostos no livro de poemas “Anônima Intimidade”, subscrito por ele. Na poesia “Exposição” disse: “Escrever é expor-se./ Revelar sua capacidade/ Ou incapacidade./ E sua intimidade./ Nas linhas e entrelinhas./ Não teria sido mais útil silenciar?”. Se poemas costumam ser a expressão da alma, o vice-presidente deve ter tido boas razões para, desta vez, contrariando o que escreveu lá atrás, considerar mais útil não silenciar.

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Agora, novamente se apresenta como a nau mais segura para aqueles interessados em desembarcar do governo Dilma e anseiam por um pacto nacional para recolocar o País nos trilhos. Empresários e lideranças políticas concordam hoje que só uma união entre diversos setores da sociedade será capaz de tirar o Brasil da grave crise econômica e política em que se encontra. Os ventos sopram na direção de Temer.