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Suspeito de morte na Lagoa deixou a escola aos 14 anos, viu o pai duas vezes e era negligenciado pela mãe

Do Extra:

 

Há quase cinco anos, em 20 de junho de 2010, X. , de 16 anos, foi apreendido pela primeira vez, acusado de ter roubado celular e dinheiro de um pedestre na Lagoa, Zona Sul do Rio. Era o início de idas e vindas por delegacias — em especial a 14ª DP (Leblon) — e unidades para menores infratores. Nesta quinta-feira, o rapaz foi mais uma vez apreendido, desta vez suspeito da morte do médico Jaime Gold, de 56 anos, também na Lagoa. Ele foi capturado em sua casa, em Manguinhos, na Zona Norte do Rio.

Desde 2010, foram 15 passagens na polícia — por crimes como roubo, furto, desacato e tráfico — e nove no Departamento de Ações Socioeducativas (Degase). Por outras três vezes, X. passou pela 14ª DP, mas como vítima. Perambulando pelas ruas do Leblon à noite, foi levado para a delegacia, onde os policiais registraram as ocorrências como abandono material (duas vezes) e abandono de incapaz. Num dos registros, de 25 de outubro de 2010, os policiais afirmam que X. e outro menor estavam passando fome, sem dinheiro para voltar para casa.

Em janeiro de 2011, seus pais foram indiciados pela polícia por abandono. Os outros dois casos ainda são investigados. Em um de seus depoimentos à polícia, no ano passado, a mãe do adolescente, de 55 anos, mostrou que já sabia que o filho estava trilhando o caminho do crime. Catadora de latas, papelão e garrafas pet, ela relatou que o menino cometia roubos e furtos desde 2010, e que ele já tinha aparecido em casa com um cordão de ouro. Ela contou ainda que o filho era usuário de maconha, e acreditava que muitas vezes ele comprava drogas com o dinheiro obtido em roubos.

A mãe, viúva do primeiro marido há 20 anos, relatou ainda que o pai de X. não participou da criação do filho, e sequer ajuda a sustentá-lo. O próprio menino relatou àpolícia que só viu o pai duas vezes na vida.

Aos 12 anos, ao ser recolhido na rua pelos policiais, X. contou que costumava matar aula para ir à praia no Leblon e em Ipanema. Segundo o adolescente, sua mãe não sabia que ele ficava perambulando nas ruas. Ele dizia que jogava futebol.

No início de 2013, no entanto, abandonou a escola. De acordo com a Secretaria municipal de Educação, X. estudou em unidades da prefeitura por nove anos, de 2003, ainda na pré-escola, até 2012, no 6º ano.