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Tarso Genro pede a deputados petistas fim das alianças com golpistas

Da Revista Fórum:

Em carta aberta a deputados da corrente Mensagem ao Partido, o ex-governador do Rio Grande do Sul Tarso Genro condenou as negociações para sustentar a candidatura do deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ) à presidência da Câmara e defendeu um “isolamento digno” do partido para que possa se alinhar com outras forças de esquerda.

Carta aberta a Fontana, Pepe, Pimenta e Paulo Teixeira: a hora de Samuel Johnson

Caros companheiros:

Baseado numa relação de respeito mútuo e companheirismo político, que nos identifica com ideais comuns, reporto-me a vocês através desta “carta aberta”, que farei circular amplamente nas redes sociais. Pela relevância e urgência do assunto, creio que vocês compreenderão, porque o faço. Não é novidade para os filiados do nosso Partido e seus militantes mais próximos, que o PT e uma boa parte da esquerda no país, enfrentam uma crise de identidade política e moral, que tem nos abalado fortemente. Esta crise não foi inventada pela mídia nem pelos Procuradores. A mídia oligopolizada e uma parte não significativa, em termos quantitativos, do Judiciário e de outros aparatos do Estado – opositores radicais do projeto que representamos – souberam, isto sim, manipular nossos erros políticos, equívocos de gestão e mesmo a ilusória sensação de impunidade (que às vezes leva ao delito), que afetou em alguma medida parte de companheiros nossos. Manipulando contra toda a evidência, porém, vincularam artificialmente a Presidenta à corrupção e assim promovem a sua derrubada, colocando no Poder uma Confederação de Denunciados e Investigados.

Isso só poderia ser feito com a produção política de uma nova hegemonia, dentro da democracia política. O oligopólio da mídia, a direita neoliberal, a extrema direita militarista, o conservadorismo oligárquico espalhado na maioria dos partidos, a intelectualidade autoritária das classes médias superiores e as velhas lideranças regionais – algumas ainda originárias dos estertores do regime militar – trataram de se agendar como os cruzados contra a corrupção. Fariseus que são, escolheram um alvo: o PT e, em especial a sua liderança mais importante, o Presidente Lula. Era um Partido que vinha para o “front” eleitoral da democracia com um viés moralista e com um projeto de mudanças, especialmente em políticas sociais, que melhorou a vida de dezenas de milhões de pessoas mais pobres e teve um enorme sucesso, por um certo tempo A melhoria da vida das pessoas mais pobres e dos setores sociais mais necessitados, porém, não aumentou a capacidade das classes sociais “de baixo” influenciarem significativamente o Estado, e o nosso Partido, consequentemente, assimilou em grande parte os métodos de fazer política dos nossos adversários, sem compreender que entrava num caminho sem volta. Iniciávamos a percorrer um novo roteiro, sem criticar inclusive os métodos políticos usados para obter os resultados generosos.

(…)

Não se trata, hoje, caros companheiros, sequer de sermos “mais” (ou “menos”) de esquerda, mas de sermos mais consequentes, em função dos nossos compromissos de resgate da cidadania e de luta contra todas as opressões, com atitudes que pautem a esperança no imaginário político de todos os democratas, inclusive daqueles que apoiaram o impedimento da Presidenta e hoje compreenderam que foram enganados. O fato de estarmos na defensiva, nos dias que correm, não nos “relaxa” para tolerar alianças com inimigos históricos do pensamento democrático, conspiradores das elites mais reacionárias do país, que, na verdade, jamais tiveram qualquer preocupação em combater a corrupção ou com a instituição de mecanismos de transparência e democratização do Estado, como os que foram instalados durante os Governos Lula. Caros companheiros, não concordo com a noção de Samuel Johnson – aliás defendida por Emerson- que “não existe história, apenas biografia”. É verdadeiro, porém, que em alguns momentos da vida, algumas biografias se somam e orientam a História para a dignificação dos homens na política, nas artes e na ciência. Creio que este episódio -que vocês enfrentarão na eleição da Mesa da Câmara- pode ser um deles: somem as biografias de vocês e resgatem a dignidade da política, sem temer ser minoria. Não troquem a dignidade de uma solidão com futuro, pela falsa alegria dos vencedores sem propósito.