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“Único condenado pelos protestos de 2013 é morador de rua”

Abaixo, trechos de um artigo de Lincoln Secco, professor de História Contemporânea da Faculdade de Filosofia, Ciências Humanas e Letras da USP:

“Rafael Braga Vieira, de 25 anos, foi preso no dia 20 de junho de 2013, no Rio de Janeiro, durante os protestos que sacudiram o Brasil naquele ano. Ele não adotava tática black bloc. Ele não pertence a uma organização anarquista. Não possui amigos influentes que o defendam, pois é morador de rua.

Não se ouviu o Ministro da Injustiça dizer que o inquérito foi forjado. É que até para se lembrar de um acusado é preciso que ele seja bem nascido, com nível superior, preferencialmente branco e com uma rede de amigos solidários. A grande imprensa e seus áulicos preferiram fazer uma novela de baixa qualidade para acusar “pessoas mais interessantes” como Sininho, Camila e seus “seguidores”. Sem esquecer que aquelas ativistas são igualmente vítimas da desinformação midiática e da mentalidade fascista de muitos policiais.

Aliás, pessoas como o Ministro e outros políticos graúdos não se solidarizaram nem mesmo com os condenados do seu partido. Se não ajudam aos amigos, o que dizer dos outros? Mas veremos muita gente (de Direita ou não) escrever que Rafael é terrorista ou que não devia estar ali, já que nada tinha a ver com protestos. Como se protestar também fosse crime. Bem, Rafael morava ali… Na rua.

(…)

Todavia, órgãos de esquerda também não estão livres disso. Em todos os lugares virtuais em que é possível expressar ódio com a confortável mediação de um computador ou sob o anonimato os argumentos fenecem e sobram os adjetivos. Pessoas ditas de esquerda apoiam com palavras covardes as ações policiais de perseguição política simplesmente porque atingem seus “adversários”. Assim, nomes como Sininho, Fabio Hideki, Celso Lusvarghi, Camila Jourdan e tantas outras são comparadas a terroristas por neopetistas e tucanos recém-casados.

Em desrespeito, diga-se de passagem, à própria posição oficial do PT, que se solidarizou com os presos e as presas.

Algumas pessoas simplesmente desqualificam até quem os defende. Utilizam termos como “idiotice”. Perguntam-se “Quem esse sujeito pensa que é?”. Repetem: “Deixe de dizer bobagem”; “Masturbação sociológica”. E usam o sinal interrogativo e as aspas diante da profissão de um comentarista.

Recorrem ao humor negro com a desfaçatez dos racistas. O humor negro é o que o nome diz: humor contra os negros. Felizmente, Rafael não acessa a internet e não lerá tais insultos que sempre ouviu cara a cara. Afinal, ele é negro. E alguns de nós sabemos o que isso significa. Recentemente, um dos jornalistas convertidos ao neolulismo, tentou ridicularizar a militante Sininho. Mas do alto de seu poder midiático ele não percebeu o quanto era baixo para seus leitores mais sérios…”

Saiba Mais: unisinos