Yunes diz que Temer sabia de “pacote” de Padilha para comprar “140 deputados”
Da coluna de Lauro Jardim no Globo:
O advogado José Yunes, amigo pessoal e ex-assessor de Michel Temer, afirmou em entrevista à coluna que o presidente sabia que Eliseu Padilha o havia usado como “uma mula”, em 2014, para Lúcio Funaro repassar um “documento”, possivelmente dinheiro.
Segundo Yunes contou à revista “Veja”, Padilha o procurou em setembro de 2014 e pediu se uma pessoa poderia deixar no escritório dele, em São Paulo, um “documento”, para que, depois, outra pessoa retirasse. Yunes diz ter permitido sem saber que se tratava de dinheiro.
Mais tarde, Yunes estava no escritório quando foi avisado pela secretária de que um homem de nome Lúcio viera deixar um envelope. Era Lúcio Funaro, o operador de Eduardo Cunha, preso desde o ano passado pela Lava-Jato.
Diz Yunes:
— Essa pessoa foi lá deixar o documento e se apresentou como Lúcio Funaro, falou um pouco sobre política e deixou o documento. Fui almoçar, depois a secretária disse que uma pessoa havia passado para buscar o pacote. E havia levado o pacote.
Segundo Yunes, Funaro afirmou que estava em curso uma estratégia para eleger uma bancada fiel a Cunha, para conduzi-lo à presidência da Câmara.
— Ele me disse: “A gente está fazendo uma bancada de 140 deputados, para o Eduardo ser presidente”. Perguntei: “Que Eduardo?”. Ele respondeu: “Eduardo Cunha”.
Após o episódio, Yunes foi pesquisar quem era Funaro. Ao ver que se tratava de um ex-doleiro, já preso no mensalão e envolvido em diferentes episódios de corrupção, procurou Temer.
— Contei tudo ao presidente em 2014. O meu amigo (Temer) sabe que é verdade isso. Ele não foi falar com o Padilha. O meu amigo reagiu com aquela serenidade de sempre (risos). Eu decidi contar tudo a ele porque, em 2014, quando aconteceu o episódio e eu entrei no Google e vi quem era o Funaro, fiquei espantado com o “currículo” dele. Nunca havia conhecido o Funaro — afirmou Yunes.
Em delação, Cláudio Melo, ex-executivo da Odebrecht, afirmou que Yunes recebeu em seu escritório, em dinheiro vivo, R$ 4 milhões que seriam parte de um repasse de R$ 10 milhões. Yunes pediu demissão do cargo de assessor especial da Presidênciaem dezembro, após a delação vir à tona.
Segundo Yunes, ele voltou a conversar sobre o assunto com Temer em dezembro, ao saber da delação da Odebrecht.
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