Estado de exceção: Azevedo é um jornalista tenebroso, mas o grampo da PGR é indefensável. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 23 de maio de 2017 às 18:32
Azevedo e seu amigo Gilmar Mendes

Reinaldo Azevedo é tudo o que você pensa de Reinaldo Azevedo, mas o que a Procuradoria Geral da República fez é indefensável.

Digno de um estado de exceção, para onde caminhamos. A “meganhagem”, como define o ex-ministro da Justiça Eugênio Aragão, tomou conta.

A lei de intercepção telefônica diz o seguinte: grampo sem relação com o objeto da investigação deve ser destruído. Não pode nem ser transcrito.

Se o papo com Andrea Neves não era relevante para um crime, qual é a justificativa para vazar?

Sigilo de fonte é inviolável. 

Foi retaliação da Lava Jato por ele ter se transformado em crítico da operação depois que ela chegou ao PSDB?

E quando for com você? Onde isso para?

A ligação foi interceptada pela PF, segundo o BuzzFeed. No diálogo, ele classificou uma reportagem da Veja como “nojenta”.

Era aquela que foi para a capa com o título “A vez de Aécio”, com a acusação de que empresário Alexandre Accioly, dono da academia Bodytech, emprestou uma conta em Cingapura para alocar propina da Odebrecht.

Reinaldo criticou também Rodrigo Janot. O PGR, afirmou, atacava Aécio porque queria se candidatar ao governo de Minas Gerais ou ao Senado.

E daí? Não se pode dar mais opinião?

Quantos outros jornalistas da Veja e de outras publicações não têm Andrea Neves ou o próprio Aécio como fonte? As gravações serão divulgadas?

Em sua coluna, ele diz que foi demitido. Reinaldo não fez nada diferente do que seu ex-patrão Roberto Civita fazia com o Mineirinho.

No final de semana de 27 e 28 de março de 2010, Aécio emprestou o helicóptero oficial para levar o dono da Abril e sua mulher Antônia irem de Belo Horizonte a Brumadinho. O casal visitou o museu de Inhotim.

Aécio ainda ciceroneou a dupla em outro passeio a São João Del Rey no Learjet governo mineiro.

O saldo foi uma entrevista nas Páginas Amarelas e uma matéria sobre o museu Inhotim.

Conheceremos o teor dos papos de Merval Pereira com seus chegados tucanos? E os Marinhos?

Reinaldo, que se jactava de ter quatro empregos, perdeu um e logo deve deixar o posto de estrela da Jovem Pan.

Como gosta meu irmão Paulo Nogueira, vale a sabedoria milenar de Pulitzer: jornalista não tem amigo.