“Estou disposto a parar o futebol se necessário”: a peleja de Mujica contra a violência nos estádios

Atualizado em 19 de novembro de 2014 às 15:06
Mujica com jogadores da seleção uruguaia
Mujica com jogadores da seleção uruguaia

 

José Mujica volta a atacar.

Mujica está no centro de uma polêmica envolvendo o futebol uruguaio, que, como o brasileiro, apenas em menor escala, é repleto daquilo que conhecemos: corrupção, desmandos, relações incestuosas com o poder, violência etc. A diferença é que Mujica não assiste a tudo da tribuna.

Ele proibiu a presença da polícia nos estádios em Montevidéu dos principais times do país, Peñarol e Nacional. Isso aconteceu depois de uma pancadaria que deixou 28 policiais feridos e levou à prisão mais de 40 torcedores no jogo entre Nacional e Newell’s Old Boys pela Libertadores. Mujica exige providências contras as torcidas organizadas, conhecidas como “barra bravas”. Não foi a primeira vez em que um episódio desses acontece.

“Estou disposto a parar o futebol se for necessário” afirmou. “Ou cortamos isso pela raiz ou não poderemos continuar aproveitando os espetáculos esportivos”.

Depois de uma reunião, o presidente da Associação Uruguaia de Futebol, Sebastián Bauzá, renunciou, juntamente com outros três dirigentes. A Fifa está investigando se houve “ingerência” do governo em seus assuntos, o que contraria seu estatuto e poderia causar até a eliminação da seleção da Copa do Mundo.

Não há “intervenção” de Mujica. Há uma preocupação e uma tomada de atitude relacionada à segurança pública. Veja o que acontece aqui diuturnamente. Veja a pressão de Sepp Blatter e Jerôme Valcke, presidente e secretário-geral da Fifa, que agem como se não só o evento, mas o país-sede fizesse parte de seu domínio.

A lista de problemas não se restringe à violência. Há denúncias com relação aos direitos de transmissão e, segundo a Conmebol, sete clubes são suspeitos de malversação de fundos. A condição que o governo impõe é que os times financiem a compra de equipamentos que permitam o reconhecimento facial dos torcedores e, assim, possam afastar os bandidos.

Sobre a possibilidade do Uruguai não disputar o Mundial, Mujica chamou essas ameaças de “fogos de artifício” (boatos).

“Na vida você não pode viver com medo de tudo, senão estaremos um dia numa esquina e morreremos de um ataque de caspa”, disse. “Mas eu não acho que a Fifa tenha nada a ver com isso porque não nos metemos com o futebol, mas com as arquibancadas”.

Si, por supuesto.