Estudantes são presos por protestar contra a máfia da merenda. Os ladrões seguem soltos. Por Mauro Donato

Atualizado em 1 de março de 2016 às 19:00
Protesto na Assembleia Legislativa de SP (Foto de Lucas Martins)
Protesto na Assembleia Legislativa de SP (Foto de Lucas Martins)

 

Na tarde desta terça-feira, estudantes retornaram ao plenário da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo para cobrar a instalação de uma CPI que apure o esquema de propina na contratação de fornecedores de merenda escolar.

O que não havia dado certo antes, funcionou hoje. Infelizmente. Tanto o Coronel Telhada (PSDB), que havia dito não estar ali a troco de pão e mortadela, como o deputado Campos Machado (PTB), haviam passado a tarde inteira da sessão na semana passada provocando, atiçando a ira de professores e estudantes e feito ameaças de pedir intervenção de força policial.

Hoje, 1º de março, novamente o deputado Coronel Telhada provocou os jovens presentes nas galerias. Ao receber vaias, incitou os policiais a prenderem os mais ruidosos. Dois alunos (Renata Letícia e Douglas) foram imobilizados, detidos e levados para o 36º DP.

O PSDB e seu esquema de propinas faz de tudo para não ser investigado, ninguém até agora foi punido ou mesmo deu uma explicação razoável e quem vai preso é quem clama por justiça, por educação, por comida?

Desde a volta às aulas no início deste ano, cidades inteiras como Ubatuba, Americana, Caieiras, Franco da Rocha e mais dezenas de escolas da rede estadual de ensino da capital (resultando em pelo menos 90 mil alunos) estão recebendo a já famosa “merenda seca”: uma caixinha de 200 ml de achocolatado e um pacotinho com 5 biscoitos. Mas se reclamarem vão em cana.

Nesta mesma terça-feira soubemos que o governo Geraldo Alckmin cortou mais da metade (53%) do orçamento para o programa Ler e Escrever, voltado para o ensino fundamental (do 1º ao 5º ano). Bem avaliado por especialistas e professores, o programa inclui elaboração de materiais, formação e treinamento de equipes.

Tem mais. Pais informam encontrar dificuldade na hora da matrícula devido a superlotação (quando o governo diz haver queda na demanda) e fechamento de turmas (mais de mil salas foram fechadas segundo a APEOESP).

Professores alegam também que o contrato com a fornecedora Gimba foi cancelado, portanto, materiais de escritório, de informática e limpeza não estão sendo repostos. Muitas impressoras já estão inoperantes e eles reclamam da falta de estrutura para trabalhar.

Como pode tudo isso? Para professores e alunos não resta dúvida. É retaliação pura em decorrência da greve no primeiro semestre e das ocupações das escolas no segundo semestre de 2015.

Mas São Paulo parece viver a síndrome de Pollyana. Geraldo Alckmin levou o fornecimento de água à beira do colapso e ainda assim foi condecorado por boa gestão. Ele está querendo descobrir onde fica o nível ‘volume morto’ na educação? Os anúncios feitos pela pasta educação de seu governo na tentativa de contornar os problemas ou fornecer soluções são sofríveis.

A Secretaria de Educação informou que o programa Ler e Escrever não será descontinuado e sim tocado pelo pessoal formado pelo próprio programa (e com menos da metade verba). Já para a merenda, afirmou que haverá um aumento de 10% no repasse para prefeituras. Em tempo: o valor atual é de R$ 0,50 na maioria das cidades. Com o estupendo reajuste, irá para R$ 0,55. Fartura pouca é bobagem.