Francisco, o papa dos ateus

Atualizado em 25 de maio de 2013 às 17:44

O pontífice abre um diálogo com os descrentes e lembra aos católicos que não só eles fazem o bem.

"Os ateus também podem fazer o bem"
“Os ateus também podem fazer o bem”

Seria útil se nossos evangélicos fundamentalistas  ouvissem, vez ou outra, o papa Francisco. A jihad evangélica teria algo a aprender em matéria de tolerância e sabedoria.

Francisco falou, em sua última homilia, que fazer o bem é um princípio que une toda a humanidade e que uma cultura do encontro era necessária para a paz. Foi além: os ateus terão um lugar no céu se forem bons.

Citando o evangelho de São Marcos, Francisco disse que os discípulos eram “um pouco intolerantes”. Prosseguiu:

“Eles estavam convencidos de que aqueles que não conheciam a verdade não podiam fazer o bem. Estavam errados. Jesus amplia os horizontes. ‘Mas, padre, esse não é católico! Ele não pode fazer o bem’. Sim, pode. O Senhor redimiu todos nós, todos nós, com o sangue de Cristo. Todos nós, não apenas os católicos. ‘Padre, até os ateus?’ Sim, até os ateus. ‘Mas eu não creio, padre, eu sou um ateu!’ Mas faça o bem: nós vamos nos encontrar em algum lugar”.

É uma mudança de paradigmas radical em relação a seu antecessor. Bento XVI referia-se frequentemente ao “extremismo ateísta” e ao “secularismo agressivo”. Falava dos estragos que a falta de Deus e da religião faziam à vida pública. Comparou a “a ascensão do ateísmo” ao nazismo (fingindo ignorar que Hitler era católico declarado). “O ateísmo levou às formas mais cruéis de violação da justiça”, dizia Bento.

O gesto do papa Francisco não significa, evidentemente, que seus próximos passos serão aceitar o casamento gay, o aborto ou coisa que o valha. Mas é um discurso inclusivo e que aponta para a convivência e não para a separação e o ódio, num mundo cada vez mais complexo. “Ateus são nossos preciosos aliados no esforço de defender a dignidade humana e em construir uma coexistência pacífica entre os povos”, disse Francisco.

No Vaticano, os apoiadores dessa nova orientação temem que as forças conservadoras da Cúria possam minar o pontífice. Ocorre que ele foi eleito por uma grande margem de votos. Os cardeais conheciam suas posições – e, de certa forma, não podem se surpreender. Daqui a 2 mil anos, chegamos lá. O importante é dar o primeiro passo.