Mais uma ameaça ao clima, nas nuvens. Por José Eduardo Mendonça

Atualizado em 18 de abril de 2016 às 13:55

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As projeções da mudança do clima subestimaram demais o papel das nuvens. Isto quer dizer que o aquecimento futuro pode ser muito pior do que o projetado.

A concentração do dobro de dióxido de carbono na atmosfera, em relação a níveis pré-industriais, resultaria em um aumento global de temperatura de até 5.3ºC, ou bem mais que os 4.6ºC previsto por modelos do clima anteriores.

Um desastre, de amplas consequências, como a elevação do nível do mar capaz de devastar cidades costeiras, e ocorrência de extremos do tempo cada vez mais severos.

A análise de dados de satélites, feita recentemente pela Universidade Yale, descobriu que nuvens contêm muito mais líquido, e não gelo, o que se acreditava até agora. Nuvens com cristais de gelo refletem uma quantidade maior de luz que aquelas com líquido, impedindo que chegue à Terra e aqueça sua superfície.

A avaliação errônea do nível atual de gotículas de líquido nas nuvens significa que modelos que mostram aquecimento futuro são equivocados, diz o estudo publicado na Science.

Cientistas também demonstraram que menos nuvens irão mudar a reflexão de luz no futuro, com os aumentos de CO2, e que as previsões terão de ser revistas.

Os resultados do trabalho sugerem que tais graus de aquecimento tornarão muito mais difícil que o mundo consiga manter o aumento de temperatura global abaixo dos 2ºC, como se acordou na conferência do clima de Paris no final do ano passado. O planeta já aqueceu 1ºC desde o advento da indústria pesada.

“Os modelos têm subestimado sistematicamente a quantidade de líquido nas nuvens, e não estamos tendo uma apreciação do resultado”, disse Ivy Tan, que trabalhou na pesquisa com colegas de Yale e do Laboratório Nacional Lawrence Livermore.

“Isto pode querer dizer que nosso limite mais alto de aquecimento é agora superior, dependendo do modelo, o que trará sérias consequências em termos da mudança do clima. Estamos tentando chamar atenção para o fato. Esperamos que a comunidade científica como um todo examine isto de novo. É um argumento premente e uma questão urgente”, afirmou ela.

“Esta é uma grande incerteza na ciência. Precisamos entender melhor este processo”, disse.

Cientistas vêm tentando compreender a extensão na qual nuvens e vapor de água irão influenciar o aquecimento que já ocorre. Um outro estudo, do ano passado, mostra que flutuações de curto prazo nas nuvens têm impactos importantes na taxa de calor adquirida pela Terra.

Um dos autores deste trabalho, Kevin Trenberth, do Centro Nacional de Pesquisa Atmosférica dos EUA, disse que a pesquisa já mostrou “grandes erros em simulações da mudança do clima associada a nuvens”.

O fator crítico é a brancura das nuvens, e ela é determinada pelo que são feitas. Quando a temperatura se encontra entre 0ºC e -35ºCm se formam contendo uma mistura de cristais de gelo e gotículas de água resfriadas, que permanecem líquidas mesmo depois do ponto de congelamento.