Michel Temer é pequeno demais, inclusive, para renunciar. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 27 de novembro de 2016 às 8:06
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Anão moral

 

A senadora Gleisi Hoffmann pediu a renúncia de Michel Temer e a convocação de novas eleições “para superar a crise política”.

Temer, que admitiu o crime de tráfico de influência como se estivesse contando que foi à padaria comprar um picolé, terá ainda de lidar com a divulgação das gravações com Marcelo Calero.

Embora tenha sido dúbio no início, Calera acabou dizendo que grampeou as conversas por sugestão de amigos da Polícia Federal para usar como prova. A PF analisa os áudios.

“A situação dele é insustentável”, discursou Gleisi.

“A renúncia seria para compensar a pequenez. O líder da oposição Lindbergh Farias já protocolou o pedido de impeachment, mas o processo é longo e traumático. Seria uma grandeza se Temer renunciasse”.

Aí está o erro. Temer é diminuto demais para uma atitude dessas. Que diria, então, o suicídio, que demandaria um grau de drama e coragem que simplesmente não habita um personagem secundário como ele.

Tudo ali é de segunda categoria: a conspiração, o golpe, a carta, os poemas, os pronunciamentos, os jantares, sua figura e, sobretudo, obviamente, o governo.

A vagabundice está entranhada no modus operandi temerista. Geddel Vieira Lima, recordemos, era um dos anões do orçamento.

Ao admitir para a colunista chapa branca Eliane Cantanhêde que vai procurar “alguém que não esteja metido em nada” para substituir Geddel, ele está falando que esse “detalhe” não estava em seu radar.

Mais: está declarando, pela enésima ocasião, que o ex-ministro e amigo de fé estava metido em algo — como ele próprio.

Com toda a mídia ao seu lado fazendo propaganda, como ele definiu no Roda Viva, Michel conseguiu errar em tudo. São seis ministros na rua em seis meses.

Não entregou a mercadoria do golpe.

O livro “Final Days”, de Bob Woodward e Carl Bernstein, a dupla de jornalistas do Washington Post responsável por revelar o caso Watergate, conta que Nixon se desesperou na véspera da renúncia.

Henry Kissinger, conselheiro político e confidente, o viu com a cara enfiada no carpete da Casa Branca, chorando e batendo com o punho no chão enquanto gritava: “O que eu fiz? O que aconteceu?”

Alguém imagina algo parecido com Michel e, digamos, Padilha? A malandragem do Planalto, o estilo gângster maroto da banalização da ladroeira não tem espaço para esse tipo de cena.

A provocação de Gleisi vale para lembrar quem é Michel Temer. Não tem sentido esperar que ele esboce uma atitude dessas, ainda que enrolado até o pescoço, flagrado em advocacia administrativa — segundo o Código Penal, o ato de “patrocinar, direta ou indiretamente, interesse privado perante a administração pública, valendo-se da qualidade de funcionário”.

Michel Temer vai sair de outra maneira: enxotado como uma ratazana prenhe.