“Não me lembro”: a defesa patética de Capez na máfia da merenda. Por José Cássio

Atualizado em 28 de abril de 2016 às 17:15
Eles
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A contundência dos tempos de Mesa Redonda na TV Gazeta, quando sentava madeira nas torcidas organizadas, virou lenda. A indignação contra a roubalheira generalizada apresentada na avenida Paulista? Esquece.

O Fernando Capez que nesta semana falou pela primeira vez na tribuna da Assembléia Legislativa sobre seu envolvimento com o roubo da merenda é um homem triste, abatido e patético.

O DCM teve acesso às notas taquigráficas do seu depoimento. Ei-las:

Pequeno demais para ser protagonista

“Desde o dia 19 de janeiro deste ano, tanto eu quanto a minha família temos sido alvos de uma campanha de destruição de imagem, de uma campanha difamatória. Fomos dragados para o centro de uma disputa política da qual me sinto muito pequeno para ser tratado como protagonista ou contrapeso de uma disputa de caráter nacional”.

“Realmente, até agora eu não entendi o que está acontecendo. É como se tivesse caído uma pedra de uma tonelada na minha cabeça, sem que eu soubesse de onde ela partiu. Estou metido com um esquema de merenda escolar? Nada mais absurdo e incompatível com a minha história; nada mais injustificável.

No entanto, estou vendo uma versão ganhar contornos de verdade. Como disse Joseph Goebbels, ideólogo do nazismo na 2ª Guerra Mundial, “uma mentira repetida mil vezes torna-se verdade”.

Estamos entrando no início do mês de maio e esperei para me manifestar, porque confiava que a Justiça apuraria rapidamente estes fatos. No dia 02 de fevereiro, eu pedi a abertura das investigações. O inquérito que tramita no Tribunal de Justiça está tramitando por que eu formulei um ofício, um pedido ao procurador-geral para que determinasse a abertura das investigações”.

 

Nome usado

“Agora, vejo-me envolvido em uma situação da qual não tenho nenhum conhecimento. Não me lembro dessas pessoas, não me lembro de nenhuma reunião que tive. Durante a minha campanha – uma campanha de mais de 300 mil votos -, recebia mais de 100 pessoas por dia no comitê. As pessoas subiam em grupos de dez, 12 ou 15 pessoas e eram ali atendidas. Eram reuniões rápidas, portas abertas. As pessoas sobem, descem e depois você perde completamente o contato, vindo a saber depois que seu nome foi usado. 

O sofrimento das filhas

“Isso não faria jus à minha história. Não teria nada a ver com aquilo que faço e com aquilo que prego, ainda mais nesse tipo de situação. 

Se estou agindo com absoluta correção na administração de um orçamento de mais de um bilhão de reais, teria alguma lógica eu me meter em um assunto como esse, vilipendiando a minha história e o nome da minha família? 

O sofrimento que minhas filhas estão tendo no colégio, a perseguição que minha esposa está sofrendo, que toda a minha família está sofrendo! Que falta de escrúpulos, as matérias que têm sido feitas! Montagens de matérias a partir de ilações! 

Não tive nenhum contato com nenhuma dessas pessoas: não telefonei, não mandei mensagem por WhatsApp, não me reuni, não conversei e não falei. No entanto, são selecionadas fotos e vinculadas à minha imagem”. 

Vergonha

“Não desejo a ninguém o que estou passando. Ninguém merece passar por isso que estou passando. É um sofrimento enorme, um sofrimento muito grande. Você vai olhando toda a sua história ao longo de sua vida, o nome que meu pai me deixou. O nome Capez não é muito comum; são poucos os Capez que existem. São primos, todos aqueles que sempre tiveram muito orgulho de mim. O sofrimento pelo qual estamos passando!

Eu paro e pergunto: estou passando por esse sofrimento todo por quê? Pelo amor de Deus, o que foi que eu fiz para estar passando por isso? Que tipo de atuação eu tive junto à Secretaria da Educação para permitir qualquer tipo de vantagem a alguém? 

Tudo está sendo feito na mais absoluta maldade. Está faltando recurso para as prefeituras? É porque dinheiro da merenda foi desviado no esquema chefiado por mim. É uma vergonha o que estão fazendo comigo. 

Se é feio o que aconteceu, se toda corrupção é feia – e nessa área ela é horrível -, a vinculação arbitrária do meu nome a este tipo de situação é desastrosa, é horrorosa, é uma destruição injustificada. 

Por toda a minha vida, eu tomei cuidado para que jamais passasse por essa situação, para que minhas filhas sempre sorrissem e tivessem orgulho – elas continuam tendo orgulho do pai -, mas estamos sofrendo porque há uma avalanche de matérias. 

É todo dia, todo dia, todo dia e ninguém dá a oportunidade de você se manifestar e aquilo que se fala é deturpado”. 

A fisionomia dos acusadores

“Eu disse mesmo que não conheço essas pessoas. Não sei nem descrever a fisionomia dessas pessoas que me acusam – de nenhuma delas, nem do lobista. Eu não teria a capacidade de reconhecê-las sequer se passassem na rua. Quem se lembra de todas as reuniões que ocorreram durante a campanha eleitoral? Quantas pessoas vocês abraçaram? Com quantas pessoas vocês bateram foto? Quantas pessoas falaram e falam em nosso nome? Não temos controle. 

Hoje eu entendo essa atividade política. Muitas pessoas que não têm mandato não entendem. Quando eu não tinha mandato, eu também não entendia o risco e o nível de exposição que temos na nossa atividade. Quantas pessoas falam em nosso nome por aqui? 

Agora eu vejo todos os adversários que fiz ao longo da minha vida, todos aqueles confrontos que eu fiz – não porque fiz inimigos, mas porque naturalmente, pelo exercício da função no tempo de Ministério Público, acabei fazendo adversários -, vejo todas essas pessoas partindo como abutres naquilo que pensam ser uma carniça. 

Digo a vocês: tenho a minha consciência tranquila. Não fiz nada disso. Eu teria vergonha de subir nesta tribuna se tivesse feito qualquer coisa parecida. 

Só não me manifestei antes porque eu tinha absoluta certeza de que a investigação que pedi para ser aberta em fevereiro, e que até agora não ouviu nenhuma testemunha, já teria sido encerrada a este momento.

Não sei quem eu incomodo, não sei o porquê, mas só digo a vocês: ninguém precisa se preocupar tanto comigo. Sou uma peça muito pequena em toda essa engrenagem. Se alguém está querendo me destruir por alguma razão, por favor, me esqueça. Só quero fazer o meu trabalho, trabalhar honestamente e ser feliz com a minha família”.

Voto de confiança

“Estou dando o melhor de mim neste tempo que estou fazendo a gestão da Assembleia Legislativa. Tenho prestigiado cada um de vocês. 

Não quero aparecer no lugar do deputado. Pelo contrário, faço a escada para que o deputado apareça em seu mandato. Muitas coisas importantes estão sendo feitas aqui, muitas coisas para valorizar o mandato de vocês.

Tudo o que quero é encerrar o mandato de presidente deixando um legado de contribuição, como fez o deputado Barros Munhoz, como fez o deputado Vaz de Lima, como fez o hoje chefe da Casa Civil, deputado Samuel Moreira. 

É só isso que quero, sair com a consciência tranquila e deixar um trabalho feito. 

Peço a vocês o voto de confiança. Eu não pediria aqui em público se achasse que fiz alguma coisa errada. Infelizmente, caí numa armadilha, provavelmente, mas espero que tudo seja esclarecido. Que não haja esse abafamento de divulgação, esse massacre que está sendo feito, que impede o esclarecimento da verdade e intimida as pessoas que a estão buscando.”