Conversando com as médicas cubanas e um médico brasileiro: Diário de Melgaço, parte 5

Atualizado em 24 de outubro de 2014 às 16:32
Dr Elton
Dr Elton

Hoje fomos gravar no hospital de Melgaço. O médico Elton Farias da Silva, 26 anos, conversou com a gente.

Elton é recém formado em medicina, e trabalha em Melgaço 12 dias seguidos por mês. Recebe da prefeitura entre 10 e 15 mil reais por esse período em que fica no hospital. (O prefeito Adiel Moura nos informou que uma diária varia de 1000 a 1500 reais). Elton está trabalhado aqui há 8 meses. Ele nos mostrou as dependências do hospital, o que funciona e o que não, as áreas que estão em funcionamento e as inativas.

Perguntei a ele sobre seus planos. Disse que pretende ficar mais este ano trabalhando meio mês em Melgaço, e a outra metade em Belém, como já vem fazendo para juntar dinheiro. Nas horas vagas, estuda. No final de 2014 vai prestar provas de residência. Pretende ser cardiologista. “Sou de uma família humilde, preciso juntar dinheiro para poder fazer os anos de residência com tranquilidade”.

Feita a especialização, pretende permanecer em Belém. Não pensa em voltar para Melgaço nem trabalhar em outra cidade afastada da capital. “Lá tenho meus amigos e família, aqui estou mais para juntar dinheiro”

Na saída, conversamos com o técnico de enfermagem Joel, que trabalha há 12 anos em Melgaço. A cidade ficou muitos anos sem médico nenhum. “A gente sempre fez tudo. Partos perdi as contas de quantos já fiz”. Joel nos contou que o médico Elton veio para substituir o Dr. Anselmo, que ficou bastante tempo trabalhando no hospital de Melgaço.  “Mas aí ele recebeu uma proposta melhor de salário, e se foi pra outra cidade”.

Estávamos voltando para o hotel, bem no final da tarde, e nos encontramos com as médicas cubanas, as Maribéis, na rua. Elas nos convidaram para um café. Saímos de lá já era noite.

Tiago Carvalhaes com as Maribéis
Tiago Carvalhaes com as Maribéis

Elas nos contaram sobre outras missões de que participaram em outros países. Falaram bastante sobre a experiência que tiveram na Venezuela. Maribel Herrera ficou 4 anos, e Maribel Saborit 2 anos, participando do “Barrio Adentro”, programa similar ao “Mais Médicos”, realizado no governo Hugo Chaves.

Diferente daqui, contam elas, na Venezuela os médicos podiam atuar em todas as áreas – no Brasil somente na UBS, em atenção primária. “Também foram contra os médicos cubanos lá, mas com o tempo nos unimos”.

Maribel Saborit também ficou um tempo na Bolívia, trabalhando em comunidades pobres.

As duas completam esse ano 20 anos de carreira em medicina de família e comunidade, e nos apresentaram exemplos de que investindo em atenção primária, no cuidado e prevenção, economiza-se na atenção secundária e promove-se saúde.

Na volta para o hotel, os cachorros revirando o lixo, as ruas ainda alagadas da chuva da noite anterior e o esgoto a céu aberto na frente das casas, tudo isso me fez pensar o quanto essa eficiência poderia ser maior se esses problemas fossem resolvidos por aqui. Como promover saúde sem água tratada e saneamento básico?

Casa

Sem saneamento básico e água tratada
Sem saneamento básico e água tratada