A nova regra do ENEM, os direitos humanos e a censura no Brasil. Por Nathalí Macedo

Atualizado em 27 de outubro de 2017 às 14:06

O ENEM – Exame Nacional do Ensino Médio – é uma prova direcionada para seres humanos. E é preciso dizer isto – o óbvio – sobretudo porque, como uma prova direcionada a seres humanos, feita por seres humanos e para seres humanos ingressarem em universidades de seres humanos, o ENEM atribuía nota zero às redações que atentassem contra os direitos humanos.

Não sei vocês, mas a mim parece bastante coerente que seres humanos não admitam redações que contrariem aos direitos humanos.
Recentemente, a regra mudou: Agora pode defender tortura, violência contra minorias, genocídios e regimes totalitários, desde que com um texto bem-argumentado – a julgar pela qualidade do nosso ensino médio, difícil é que tenhamos textos bem-argumentados.

O fato é que você pode entrar numa universidade com a mentalidade e com o (de)mérito que quiser – e que tiver – desde que consiga usar corretamente os verbos e advérbios (tipo o Temer entrando na presidência).

Por outro lado, as discussões sobre censura no Brasil merecem alguma atenção nestes tempos. Jornais – de direita, de esquerda, de centro e de nada – têm sido censurados. Pessoas têm sido censuradas – não é de hoje – nas redes sociais. O próprio DCM foi censurado.

Na época da pós-verdade, checar os fatos e censurar pessoas e veículos de comunicação são – apesar de abissalmente distantes – comumente confundidos. Contra as chamadas fake News, por exemplo, a checagem de fatos deveria ser a solução, mas a censura, muitas vezes, o tem sido.
Quando se abre a porta da censura, é muito difícil fechá-la. O Brasil está, há alguns anos – graças não só ao conservadorismo, mas ao fascismo maquiado de progressismo quem vem sendo promovido por uma parte da esquerda – abrindo as portas da censura.

E por isso que quando o ENEM fecha as portas da censura, isso me alivia. Quando o maior exame de estudantes do país diz a esses estudantes que eles podem escrever o que quiserem, isso me alivia. Quando caminhamos para um sistema de seleção que valoriza a liberdade de expressão, isso me alivia, porque a ausência de diversidade nas universidades brasileiras tem se tornado realmente assustadora – e a diversidade é tudo o que nós queremos e precisamos.

Na prática, entretanto, gosto de crer que ninguém vai aprovar um aluno que defende torturadores na redação do vestibular.

Portanto, desistam e façam um curso técnico, Bolsominions. A nova regra não muda muita coisa pra vocês.