Num governo onde o errado impera absoluto, Marun é a pessoa certa no lugar certo. Por Carlos Fernandes

Atualizado em 22 de dezembro de 2017 às 10:29

Imagine, querido leitor, uma organização criminosa qualquer. Para que nosso exercício aproxime-se o máximo possível da realidade, tomemos o PCC como exemplo.

Como toda entidade pertencente ao crime organizado no mundo, o PCC possui um sofisticado esquema de hierarquia funcional que cumpre um não menos rigoroso sistema de fidelidade pessoal, metas e recompensas.

Por óbvio, os mais altos escalões da pirâmide organizacional do Primeiro Comando da Capital são galgados por quem, de seus integrantes, possui a maior capacidade personal de transgredir as leis vigentes no país.

Em outras palavras podemos dizer que o topo da cadeia alimentar desse tipo de “empresa” é inversamente proporcional à prática irrestrita da ética civil, pública e política de uma nação que se queira minimamente decente.

Dito isso, veja o arremedo de governo que se instalou no Brasil a partir de um dos mais escandalosos processos de impeachment montado sob a égide da traição, da compra de parlamentares, da conivência midiática e do consórcio de uma massa falida de instituições.

Nas palavras de um célebre político brasileiro, foi um golpe “com Supremo, com tudo”.

Pois bem! Comparada suas semelhanças e resguardas suas diferenças de ocasião (o PCC não é tão poderoso assim) é nesse contexto que o deputado federal Carlos Marun chegou, numa rapidez extraordinária, a um dos cargos mais importantes do governo Temer.

Debutante no Congresso Nacional, em apenas três anos de legislatura federal, o desconhecido gaúcho que fez sua “carreira política” no Mato Grosso do Sul, passou da condição de apenas mais um lacaio a ocupar uma das 513 cadeiras da Câmara ao cargo de principal articulador político do Palácio do Planalto.

O cidadão não brinca em serviço.

Ferrenho defensor de Eduardo Cunha, o ex-presidente da Câmara e agora “suposto” presidiário (quem entende os esquemas que rolam pelas bandas de Curitiba, pode imaginar o que quero dizer com”suposto”), Marum é, convenhamos, a pessoa certa no lugar certo para um governo que faz do errado a sua razão de existir.

Sem qualquer timidez na extenuante arte Temeriana de fazer da República um grande balcão de negócios, Marun percorre com desenvoltura todas as alas políticas desse país que não se envergonham em fazerem de seus mandatos públicos um enorme trampolim para o enriquecimento ilícito.

Temer não poderia ter outra pessoa melhor no lugar.

Apenas quatro dias após sua posse como ministro da Secretaria do Governo, nada menos do que 60 deputados já foram ao seu encontro. Numa conta rápida, o astuto Marun recebeu – e negociou – em média, algo em torno de um deputado a cada 1 hora e meia. Sem pausas.

O homem é um fenômeno no toma lá, dá cá.

Seguindo as ordens de seu chefe, Marun segue nessa empreitada encarregado de conseguir os votos que faltam ao governo para a aprovação da reforma da Previdência. Dinheiro, para esse fim, não é problema. O povo que coma brioches.

Verdade seja dita, na organização criminosa que tomou de assalto o governo central brasileiro, o seu chefe supremo, Michel Temer, que ostenta o ineditismo de ter sido denunciado não só uma, mas duas vezes pelo MPF por crimes cometidos no decorrer do governo, sabe arregimentar os seus homens de confiança.

Indiferente às “baixas” de seus fiéis escudeiros como Geddel Vieira Lima e Henrique Eduardo Alves, todos presos, em meio à malta que o cerca, Temer possui um olho clínico para reconhecer os seus pares.

Carlos Marun é Eduardo Cunha que, por sua vez, é o próprio Michel Temer. É um círculo vicioso perfeito. Um verdadeiro organograma que respeita as “qualidades” inerentes à prática de pilhar.

O que se transformou o Poder Executivo no Brasil é algo assombroso. E o pior, porque sempre pode ser pior, é a certeza que fica explícita de que, à vista do que está em curso nos subterrâneos de Brasília, o PCC – e todas as demais organizações criminosas do país – não passam de crianças que ainda tem muito a aprenderem.