O blog do Yahoo que virou fonte das mais estúpidas teorias conspiratórias da extrema-direita

Atualizado em 3 de abril de 2015 às 21:25

Fraude eleitoral 1

 

. Os Estados Unidos estão investigando se as eleições no Brasil foram fraudadas. A empresa venezuelana Smartmatic, que produz as urnas, deu um golpe eletrônico.

. As autoridades da Operação Lava Jato estão chegando perto de desvendar o que está por trás dos perdões das dívidas de países africanos.

. Nicolás Maduro esteve presente nos protestos do dia 15, como parte do “exército” de Stédile.

. Lula abandonou Dilma e orquestrou uma campanha difamatória através da imprensa. José Dirceu e Marta Suplicy foram usados por ele para detonar a sucessora.

. Um ministro da Venezuela veio armado ao país para dar aulas de tiro ao MST. A intenção é montar uma milícia bolivariana. Os planos estão adiantados.

. A Polícia Federal está buscando uma gravação segundo a qual Paulo Roberto da Costa disse que Dilma Rousseff teria sido quem “forçou a barra” para que a usina de Pasadena, na Califórnia, fosse comprada pela Petrobras a preços insuflados, e em total desacordo com os de mercado.

. A CIA matou Eduardo Campos.

Todas as “notícias” acima foram publicadas no portal Yahoo. São falsas ou ilações. Como essas, há diversas outras. O autor é Cláudio Tognolli, um caso de mitomania como pouco se viu na história da imprensa nacional, incluindo a extinta revista Planeta, que tratava de OVNIs.

Sem apurar, chutando a esmo, citando fontes que não existem, fazendo ligações sem sentido, criando teorias as mais estapafúrdias, entrevistando “especialistas” que ninguém sabe ao certo quem são — enfim, mentindo –, Tognolli tem licença para matar. Não possui qualquer tipo de supervisão ou critério jornalístico.

Seus posts passaram a alimentar a vasta rede de psicopatia da extrema direita. Gente com o perfil típico de um revoltado online compartilha e repercute aquelas “informações” e alerta para a conspiração bolivariana. O simulacro noticioso tem os clichês mais idiotas, feitos sob medida para ignorantes de ocasião. Ele sempre tem uma “bomba”, uma “exclusiva” etc. Quando se vê, não é nada.

Além dos maníacos e inocentes inúteis, Tognolli atrai também comentaristas do mais baixo nível. A maioria tem algo a acrescentar à farsa e, depois, xinga e pede a morte dos citados — um padrão que tem levado portais a suspender comentários para evitar complicações jurídicas. No caso dele, a loucura está liberada.

No tal post em que anuncia a intervenção americana, Tognolli baseia seu “furo” numa palestra do “prestigioso” The National Press Club. “Falarão sobre o tema o ex-presidente colombiano Alvaro Uribe, Olavo de Carvalho, o irmão do ex-presidente Bush, Jeb Bush, e o sempre sério e respeitado senador Marco Rubio.” (O ultraconservador Rubio, da Flórida, falsificou seus dados biográficos de modo a contar que seus pais fugiram da ditadura cubana em 1971, quando eles imigraram em 1956, antes da revolução).

Uma figura frequente no blog é Lobão. Tognolli é co-autor da biografia do músico. É claro que ele não avisa os leitores. O fundamental é utilizar o Yahoo para fabricar boatos e factoides que depois virem verdades em protestos na Paulista capitaneados pelo amigão.

Tognolli é professor na ECA-USP (!!). Passou pela Veja, Folha e mais uma miríade de títulos sem nunca se firmar em nenhum por motivos óbvios. Num perfil em inglês claudicante escrito por ele mesmo na Wikipedia, se declara co-fundador do Brasil 247 e diretor da Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo).

Não tem compromisso com fatos, mas consigo mesmo. Anos atrás, deu uma longa entrevista para a revista “Caros Amigos” detonando a Veja e “denunciando” a relação de seus diretores com Antônio Carlos Magalhães. Hoje chama a revista de “corajosa” para tentar emplacar notas e matérias sobre seus livros.

Foi ghost writer de “Assassinato de Reputações”, de Romeu Tuma Jr, recheado de tentativas de assassinato de reputação. A grande revelação era que Lula tinha sido informante do Dops e usava o codinome “Barba”, balela que foi desprezada até por Fernando Henrique Cardoso num Manhattan Connection.

Ninguém medianamente ajuizado leva aquilo a sério. Mas as empulhações sobrevivem no pântano do subjornalismo — ou do que Umberto Eco chamou, numa bela entrevista ao El Pais sobre seu novo livro a respeito de um jornalista picareta, de “máquina de lama”.

Ela “é utilizada para deslegitimar o adversário e desacreditá-lo sobre questões particulares”, afirma Eco. “É suficiente difundir uma sombra de suspeita”. A máquina de lama do Yahoo é operada por um homem só, munido de um arsenal de velhacarias, livre em seu voo mitomaníaco.