O boicote à viúva de Marcelo Rezende é mais uma face da misoginia. Por Nathalí Macedo

Atualizado em 21 de setembro de 2017 às 21:13
Marcelo Rezende e Luciana Lacerda

O comunicador Marcelo Rezende, que morreu recentemente de um câncer, namorou, em seus últimos anos de vida, uma mulher muito mais jovem que ele.

Pouco se sabe sobre Luciana Lacerda, já que os filhos do apresentador – Diego Esteves, Marcella de Oliveira, Valentina Barreto, Ana Carolina e Patrícia Andriessen –  vetaram qualquer menção ao seu nome na cobertura da morte de Rezende feita pela Record.

Sabe-se apenas que Luciana abandonou o próprio emprego para cuidar do apresentador – que optou por um tratamento alternativo para o câncer e acabou morto – em seus últimos dias de vida, e, após sua morte, foi expulsa da casa onde vivia com o companheiro e impedida de entrar em seu enterro.

Além disso, os filhos apagaram as fotos de Luciana das redes sociais oficiais de Marcelo.

O também apresentador Geraldo Luís, que diz ter prometido ao amigo que cuidaria de Luciana em sua ausência, entrou com ela de mãos dadas no enterro – foi esta a única maneira que a viúva encontrou de participar do adeus ao próprio companheiro.

Filhos que boicotam as viúvas de seus pais por dinheiro não são novidade. Diego, Marcela, Valentina e Ana Carolina não serão os últimos. O caso de Luciana e Geraldo, entretanto, desperta-nos para uma questão arrebatadora: a descrença geral no amor e na fidelidade das mulheres.

Não importa o que elas façam: se abandonam seus empregos para cuidarem de seus companheiros, se lhes são fiéis e leais, se suportam a hostilidade e descrença geral em nome do amor…

Desde Eva, mulheres são e sempre serão traiçoeiras, mentirosas e fúteis, até que se prove o contrário – e o patriarcado quase nunca nos deixa provar o contrário.

A caixa de pandora nunca foi fechada. Permanece escancarada e destilando misoginia.

É inaceitável, para muitos, que mulheres jovens se apaixonem por homens mais velhos: estas são, sempre e inevitavelmente, rotuladas de interesseiras, oportunistas e alpinistas sociais.

São escorraçadas pela família de seus companheiros, pela sociedade e – se eles forem pessoas públicas – também pela mídia.

Não há absolutamente nada que deponha contra Luciana além do fato de ela ser mais jovem que seu companheiro falecido. Pelo contrário: as redes sociais da moça demonstram o seu cuidado e carinho nos últimos dias de vida do homem que ela escolheu e amou.

Se há alguma justiça neste mundo, Luciana será de alguma forma recompensada por seu amor e dedicação a Rezende.

Se não há – e desconfio mesmo que não haja – deixo aqui minhas sinceras condolências a ela pela morte de seu companheiro e pelos maus tratos que vem sofrendo, e minha mais profunda admiração e votos de felicidade quando seu luto passar – e passará.

Para pessoas como Luciana, não importam as chaves da casa ou as fotos nas redes sociais: importa o que está no mais fundo de seus corações.

E no coração dela, Rezende vive.

Força, querida.