O Brasil pós-pedido de impeachment. Por Paulo Nogueira

Atualizado em 2 de dezembro de 2015 às 21:56
O chantagista se revelou
O chantagista se revelou

 

 

A melhor palavra para o que Eduardo fez hoje é a seguinte: palhaçada.

Não vai dar em nada. Não pode dar em nada. Mas Cunha conseguiu sujar ainda mais sua folha corrida ao acatar o pedido de impeachment de Dilma em circunstâncias patéticas.

Ele confirmou o que todos já sabiam: que vinha fazendo chantagem com o PT. Em troca da proteção do PT ele seguraria o pedido de impeachment.

O chantagista agiu tão logo se soube que o PT, com formidável atraso, decidira enfim ajudar no esforço de tirar Cunha do caminho.

E agiu a seu melhor estilo: com uma dose descomunal de cinismo. Cunha conseguiu dizer que a decisão do PT de apoiar sua cassação nada tinha a ver com a aprovação do pedido de impeachment.

Coincidência, portanto. É nisso que Cunha quer que os brasileiros acreditem. Que tudo o que aconteceu num espaço de horas – o PT contra ele e sua agressão a Dilma – foi obra do acaso.

Ainda no mesmo dia o Globo publicou uma reportagem que mostra as profundezas da ligação de Cunha com André Esteves, o banqueiro caído em desgraça do BTG Pactual.

Uma repórter do Globo teve acesso a e-mails nos quais Cunha e o BTG discutiam os termos de uma emenda favorável ao banco.

O mesmo BTG, dias antes, aparecera no noticiário em meio a denúncias de que teria dado a Cunha 45 milhões de reais por aquele tipo de serviço: aprovar legislação amiga.

A essas acusações somaram-se várias outras amplamente conhecidas e documentadas, como as contas na Suíça não declaradas. Cunha, numa das cenas mais absurdas do ano, disse que não era dono do dinheiro, mas “usufrutuário”.

É uma prova do estado putrefato da política nacional que Eduardo Cunha, o símbolo supremo da corrupção e do atraso, tenha poder para deflagrar um pedido de impeachment em que 54 milhões de votos estão em jogo.

Mais de dois meses se passaram desde as revelações dos suíços, e Cunha permaneceu intocado. Era como manter uma metralhadora nas mãos de um lunático.

Fica a suspeita de que, se não lhe subtraíram a arma, era para que ele a usasse contra Dilma. Se alguém tiver explicação melhor, que a apresente, por favor.

Mas as rajadas de Eduardo Cunha só poderão atingir o vento, figurativamente. Mesmo num universo político doentio como o brasileiro, Cunha não pode, no final, destruir a democracia.

Porque é disso que se trata: da destruição da democracia. Do retrocesso do Brasil rumo a 1964.

O rosto, a alma, o coração do golpe é Eduardo Cunha.

Quem se associar à tentativa de golpe de Cunha será comparsa num crime de lesa pátria. E todos os congressistas sabem disso.

A motivação dele é a mais baixa, a mais sórdida possível. Ele está consumando uma chantagem suja, uma vingança abjeta.

O Brasil está diante da seguinte encruzilhada: de um lado, Eduardo Cunha. De outro, a democracia.

A democracia vai triunfar.