O caso Bianca Toledo: o recalque da homossexualidade cria monstros. Por Nathali Macedo

Atualizado em 7 de julho de 2016 às 17:03
Bianca Toledo e seu marido, o pastor
Bianca Toledo e seu marido, o pastor Felipe Heiderich

O relato de Bianca Toledo sobre seu marido estuprador é tocante, eis um fato que não se pode negar.

Segundo o senador e pastor Magno Malta (PR-ES) o também pastor e marido de Bianca, Felipe Heiderich, foi preso por estuprar o enteado de cinco anos.

Em sua declaração pública, Magno acusou Heiderich de “falso pastor”, acusação da qual, aliás, ouso discordar: Felipe Heiderich não é um falso pastor. Dirigia cultos, cobrava dízimo e falava “em nome de Deus” – todas as coisas que faz um pastor. Ele é, portanto, para a lógica e para o bom senso, um pastor.

É desonesto para a comunidade evangélica negar isto. Mais do que desonesto, é perigoso e ingênuo não reconhecer que a religião não é capaz de tornar ninguém imune a crimes e brutalidades. Aliás, ouso (novamente) dizer que a igreja não só não é capaz de fazê-lo como pode, de fato, contribuir para que crimes como este sejam silenciados, porque tornam os chamados “homens de Deus” acima de qualquer suspeita, ao menos diante de seus seguidores mais fanáticos.

O caso de Lucas Terra, o coroinha estuprado e brutalmente assassinado por pastores da Igreja Universal em Salvador, é apenas mais um dentre tantos casos de crianças vítimas de abusos dentro das igrejas. Na igreja católica, Aldo Pagotto, frequentador de manifestações que lutavam “contra a corrupção” e é acusado de ter abrigado em sua diocese padres e seminaristas que foram expulsos por outros bispos por estarem envolvidos em abusos sexuais de menores de idade é também apenas mais um representante da podridão que acontece diuturnamente sob as batinas.

Antes de acusar a comunidade evangélica ou de defender um pedófilo – não estou aqui para nenhuma destas duas coisas – precisamos refletir: o que há em comum entre tantos pastores homossexuais, pedófilos e estupradores?

O recalque (no sentido freudiano, evidentemente) da homossexualidade, arrisco dizer.

A homofobia arraigada no discurso das igrejas evangélicas – não se sabe o porquê, já que Cristo pregou o amor ao próximo, e não o amor ao hétero – tem criado monstros que não são doentes e não estão endemoniados: estão apenas externalizando que há de pior na humanidade.

Enquanto a igreja obrigar pessoas a serem o que não são, a reprimirem seus desejos sexuais – homo ou heterossexuais – como se fossem aberrações, estes continuarão a tomar dimensões inimagináveis e incontroláveis.

Não há fundamentação científica para que se diga que a pedofilia é socialmente desenvolvida ou estimulada, mas o fato é que autorrepressão serve apenas para criar a adoração pelo proibido e a desnaturalização do ato sexual – e o sexo, uma vez desnaturalizado e transformado em uma coisa sobre-humana, pode assumir diversas faces, inclusive as mais cruéis e inaceitáveis.